Não seja um pássaro

Carolina não percebeu, ao atravessar a rua, aquele pequeno pássaro que não voou quando ela passou. Não notou que ele, diferente dos outros, não se assustou com seus passos largos, com a força em cada um deles, com seu olhar fixo no mesmo ponto.

Este pássaro se sentiu ali, como se estivesse achado alguém como ele, capaz de colocar metas e segui-las, sem ao menos se preocupar com o que passa ao seu redor, sem notar os pássaros à sua volta e o quanto seu vôo pode prejudicar estes.

Mas assim como o pássaro, Carolina que tentava de tudo tirar o mais importante para si, cortando os caminhos insignificantes e fixando aqueles passos somente onde lhe interessava, não percebeu que naquela mesma rua vinha uma pessoa como ela, com as mesmas características, e por estar dirigindo um carro, acabou por atropelá-la.

O pássaro, percebendo a importância daqueles segundos onde tudo aconteceu, no mesmo instante em que se sentia feliz por encontrar alguém como ele, sente o desespero de acabar como Carolina por causa do erro na sua maneira de encarar a vida e o próximo.

Foge dali, mas sabe que não pode fugir de si mesmo.

Morgani Guzzo
Enviado por Morgani Guzzo em 20/08/2006
Reeditado em 13/09/2006
Código do texto: T220635