UM TROCADO

Aloma compreendera que aquele lugar não era mais de sua exclusividade. Além do mais, tinha algo naquele garoto que lhe impressionava. Era a terceira vez que ela o encontrava, sentado no paredão, enquanto seu olhar caminhava o universo – era o que ela pensava.

Aloma se acomodara com a intimidade de quem se apossava da imensidão que aquele cantinho representava. Fora o que sobrara de um muro atingido por uma onda violenta, mas que tinha a vista mais bela do litoral. Abriu a mochila, de onde tirara o notebook, como era praxe, e começou a escrever. Abonara os pensamentos, que adejava na vastidão a sua frente – aquele era o seu mundo.

No ensejo, não cabia a insegurança proveniente das atrocidades dos dias atuais. Aloma sabia que não era prudente usar o notebook, num lugar onde transitava todos os tipos de pessoas, mas, que ao seu redor, só tinha aquele garoto, tão próximo quanto distante. Tantas coisas passavam em sua cabeça, tantas imagens açulavam sua imaginação, mas naquele dia existia algo que lhe incomodava e que lhe inspirava: era sobre aquele garoto que ela queria escrever. E começaram as interrogações internas:

- Devo perguntar seu nome e me apresentar? Perguntá-lo sobre o que pensa?

- Não! Não vou fazer isso, já sei que ele está pensando... Sei?!

- Sim, é isso:

- O que será que essa moça escreve? Ah, eu queria um bicho desses também - Eu iria escrever sobre esse marzão e essa moça...

_ Ah, não! Ele não pensaria assim! Ele é muito novo, deve ter uns 12 anos... Ele deve estar pensando em pegar uma onda, será?!

- Oba! Que onda gigante! Se eu tivesse uma prancha...!

- Porque será que eu ainda não me convenci, disso? - Disse Aloma.

- Acho que ninguém pode saber o que pensa o outro – continua

Diante desse conflito, Aloma resolve dirigir-se ao garoto e fazer o que considera certo:

- Olá! Eu sou Aloma, agora sua vizinha de paredão, e você, quem é?

O garoto olhou agnóstico para Aloma e disse:

- Eu sou Carlinhos, me dá um trocado, moça!?

Ivone Alves SOL