A violência em cada um de nós

Renata desceu na plataforma, saiu pela roleta e logo estava na rua. Olhou pra um lado, pra o outro. Sentiu um arrepio. Não havia ninguém. – Não tem jeito, pensou. Seguiu o seu caminho. Eram aproximadamente 18h30min.

Ao atravessar a rua, notou um rapaz parado, encostado em uma parede. Mal alcançou o outro lado, sentiu o movimento do moço em sua direção. Renata sentiu o coração pulsar mais forte. Tratou de apressar o passo, mas logo foi alcançada.

- Aí, tia, comigo é na tranqüilidade.

- Pois, não, meu filho. O que você quer? Pensou, que pergunta idiota.

- Tia, eu acabei de sair da prisão. Num quero fazê mal pra sinhora. Num precisa tê medo. É só mi passá a bolsa.

- Mas, eu não tenho nada de valor, só documentos.

- Aí, tia, sem papo, manda a bolsa.

- Bolsa? Você está vendo o que eu tenho aqui na minha mão?

- Qué isso, tia? Vai com calma que esse trabuco pode disparar!

O rapaz não esperava aquela reação, é claro. Renata se sentia poderosa e vários pensamentos passavam pela sua cabeça. – Que tal fazê-lo ir de joelhos até aquela rua adiante? Ou quem sabe atirar no pé dele e fazê-lo me acompanhar com uma perna só, saltitando? É isso.

Um tiro no joelho e ela se sentiria vingada. – Não teria coragem de tirar a vida desse infeliz. É claro que, se a situação fosse inversa, ele não pensaria duas vezes. Já ouvira histórias absurdas de vagabundos que faziam maldade pelo simples fato de sentir o poder que ela estava sentindo agora com aquela arma na mão. Atiravam ou enfiavam uma navalha em suas vítimas por não possuírem dinheiro, ou por nada terem a oferecer de valor. A impunidade faz isso. Faz os valores se inverterem. A vida passa a valer nada. É como matar uma barata; existem muitas outras por aí.

Em meio aos seus pensamentos, Renata atirou. Com o barulho do tiro, acordou assustada. A rua continuava deserta e ela já estava chegando em casa. O medo e a revolta a fez divagar e se imaginar na situação de posse de uma arma para aplacar a humilhação que já sentira quando levaram os poucos bens que possuía: bolsa, documentos, uns trocados para o ônibus e sua dignidade.

(apenas um desabafo pela paz de espírito perdida - 18 e 21/08/2006)

Maria Maria
Enviado por Maria Maria em 22/08/2006
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