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Profética

                 
Estava tão certa de que o marido tinha amantes que passou a desconfiar até da sombra. Imaginava que era a vizinha, a colega de repartição, a moça do supermercado, a prima oferecida, a amiga da irmã.               
                 Passou a viver no inferno e transformou a vida dele e dos filhos num purgatório, um tormento de lamúrias, queixas, acusações.
                Ele por sua vez, jurava de pé junto que era delírio, que a desconfiança dela era infundada que ele nunca dera motivo para que ela agisse assim, que ciúme tinha limites...
                O convívio passou a ter clima de guerra fria. Se trazia um presente, ouvia:- Culpa! Mil vezes culpa! A troco de que me traz esse presente se não é por culpa?
                 Se ele esquecia algum item da feira, mais reclamações, acusações:- Desleixado, irresponsável! Aposto que da feira dela ele não esquece nada!
Se se atrasava:- Eu não disse, deve tá por aí, farreando com a “rapariga”! e a lamúria e o choro estavam garantidos. Não adiantava os filhos dizer-lhe que exagerava, que não tinha provas e ela respondia: -Terei!!
               Passou a rejeitá-lo na cama. - Não me toque! Já tem quem lhe satisfaça!
               O dito cujo, como não tinha mais sossego em casa, passou a chegar cada vez mais tarde. Aceitou o convite para o futebol, para o churrasco no clube, para o happy hour ...Sempre sozinho, mas um dia, convidou uma amiga para jantar, outra para dançar, outra para tomar um drinque... Gostou de se sentir solteiro e arranjou uma namorada, duas... três...
                Meses depois, chegando de mais de um fim de semana dormindo fora, já bem tarde da noite, estacionou o carro, jogou as chaves na estante e foi tomar banho. A mulher desfiou o rosário das reclamações, como de costume e ele nem ligou. Ela, enfurecida, perguntou:- Posso saber por que você não se defende mais, não reclama mais do meu comportamento?
              - Simples, você está certa! Eu resolvi aceitar sua sugestão: arranjei uma amante!
                Ela para, respira fundo, encara os filhos e grita: - Eu não falei???