Historietas de Sexo Animal e Violência Urbana

Estava sentado na banqueta daquele bar fuleiro de sempre. Tinha acabado de sair do emprego miserável que ele odiava. Sorvia lentamente uma cerveja gelada e com bastante espuma branca. Queria somente se embriagar o suficiente para conseguir uma noite de sono para começar a maldita rotina no outro dia. Fumava um cigarro barato. Apenas esboçava pensamentos, sem uma idéia nova que lhe acrescentasse algo.

Fui quando uma loura estonteante de derreter catedrais irrompeu porta adentro. Irromper é modo de dizer. Simplesmente entrou e olhou em direção do stand de cigarros. O atendente do balcão pegou o pedido da moça. Uma carteira de cigarros de filtro amarelo e dropes de menta. Ele a olhou indiferente. Estava cansado do emprego e sabia intimamente que mulheres como aquelas estavam reservadas para filhinhos de papai e seus carros possantes e não trabalhadores comuns como ele. Quando a garota foi pagar a despesa ela o encarou fixamente e perguntou ríspida:

“Tá me comendo com os olhos, filho da puta?”

Fez que não era com ele e bebeu um longo trago da cerveja. A mina, então, voltou à carga:

“Vou chamar meu marido e ele faz sopa de um escroto asqueroso como você. Um rato de bar. Isso é o que você é: um rato bêbado e parasita de botequim de esquina!”

Ele tentou acalmá-la dizendo que talvez ela tivesse se enganado, que ele não tinha tido nenhuma intenção e em último caso que ela não passava de louca paranóica que tinha vindo bater na porta errada. Foi a gota d’água. Num elegante rodopio, ela virou nos calcanhares e saiu porta afora praguejando e fazendo ameaças num tom mais apropriado para feirantes do que para a gata maravilhosa que era. Ele pediu mais uma cerveja. Já estava acendendo outro cigarro e tomando o segundo copo quando sentiu uma dor lancinante nas costas. O sangue escorreu por sua boca. Ele caiu da banqueta onde estava sentado, já agonizante. Correria geral no bar. Aquele velho “salve-se quem puder”. Ele nem tinha ouvido os dois disparos efetuados pela arma do fogo do marido da bela que o chamara de rato de botequim quarenta segundos atrás...

*************

Pedra de crack é foda!. Lesa a estrutura moral e psicológica do malando. Filho da puta vira ladrão e cagüeta da noite para o dia. Pode ser teu amigo de infância, se o “nóia” está nessa fissura e você insistir de colocar ele dentro da tua casa, de tentar dar uma força do mano, no teu primeiro vacilo ele te rouba. Um livro barato, um cd que você já tinha esquecido ou um vaso da tua mãe. Vende qualquer coisa que cai na mão para sustentar esse vício maldito. Droguinha de pobre. Era prá ser. Mas acabou caindo na corrente sanguínea dos filhos da burguesia aqui da Caiporolândia e aí, negão, já viu... Os ex-playboys agora andam esfarrapados, de cobertor nas costas, esbodegados e fedendo a rua e urina, falando com as placas dos bares e os postes de luz. Em suma, virou tudo em mendigo e o que é pior, viciado.

Só dei com os burros na água uma vez. Botei um cara que conhecia desde a adolescência dentro da minha casa, dei comida, pouso e banho e cara meteu a mão no jarro. Me levou duzentos contos que devia ter deixado marcando em algum lugar. Só me dei conta dois ou três dias depois quando fui fazer a contabilidade para pagar o condomínio. Quando você trabalha, puxa um baseadinho e é um cara honesto e cumpridor da suas obrigações você fica puto dentro das calças quando uma pessoa que supostamente você confiava faz uma lambança dessas e te deixa com cara de bundão por causa de víciozinho à toa. Mas, na outra ocasião que encontrei a figura me contentei em lhe dar umas boas ripadas. Às vezes, faz bem para o ego...

***************

Ele já a tinha subjugado. Já a tinha amarrado com os braços para trás com sua gravata e a amordaçado com o lenço. Uma antiga fantasia sexual da moça. Ser dominada, controlada, atada, tolhida sua voz. Ele a penetrava com seu membro rústico e viril. Ela de olhos esbulhados e esgazeados suspirava e gemia. Algo para apimentar aquela relação que se arrastava por dois anos. Ele era o estuprador. Ela, a vítima. Caia bem. Era uma noite quente de final de primavera. A foda louca-maluca durou por um bom tempo. Uma hora ou uma hora e meia. Gozaram juntos. Ela a desamarrou sem pressa. Quando sua boca foi solta ela estava com sorriso satisfeito. Fumaram um cigarro. Acariciavam-se nos cabelos. Ele tinha 30. Ela 26. Bons empregos. Ele tinha acabado de comprar esse apartamento um bairro meio central e tranqüilo por um preço honesto e à vista. Ele levantou-se para ir ao banheiro e ela foi preparar mais um uísque com gelo e água mineral com gás. Sentou-se no sofá da sala vestindo apenas um roupão e ligou a TV. Passava um programinha de entrevistas qualquer, mas alguma coisa no tema chamou sua atenção. 10 minutos e seu par não voltava. Ela zapeava com o controle remoto. 20 minutos. Meia hora. E nada. Ele levantou para conferir se tinha acontecido alguma coisa. Por dois minutos chamou por ele, calma, mas insistentemente. Mais cinco minutos começou a perder o controle e saiu pela porta do apartamento para bater no vizinho, um lutador de jiu-jítsu aposentado que vivia das rendas acumuladas com patrocínios do tempo em que competia, irrompeu pelo apartamento e, rapidamente arrombou a porta do banheiro. Ela gritou em desespero quando viu a cena. Um ataque cardíaco fulminante acometeu seu jovem amante que a pouco tinha a feito a mulher mais feliz do mundo...

****************

Já viu briga de bar? Briga de foice deve ser bem parecido. No bar não tem regra, amigo. Murros, socos ingleses, garrafadas, mesas e cadeiras voando. Um pandemônio. Às vezes uma faca, um estoque, um revólver. Ás vezes corpos estendidos no chão e polícia. Sempre sobra para o dono do estabelecimento que está tentando ganhar o seu honestamente. Mas, sabe como é. No Brasil, gente que trabalha direito só se fode. O negócio é descolar um empreguinho público com um cargo de comissão e ir levando. Semana de três dias. 4 horas por dia. Não vale a pena ficar trabalhando de sol a sol e agüentando bêbado xarope, enrolando a língua, te pegando, te batendo nas costas para chamar sua atenção só para que você fique escutando o papo chato do cara. Contam 32 vezes a mesma história que vira outra e nunca tem final. Outro dia mataram um freguês aqui. Bem na minha frente. Nem vi o cara entrar armado nem nada. Só escutei os estampidos e quando me virei tava lá o presunto duro, todo ensangüentado no meu chão. Os homens só apareceram duas horas depois. Me interrogaram, queriam me levar para delegacia. Onde já se viu? E adivinha prá quem sobrou limpar aquela nojeira toda?

*********************

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 06/05/2010
Código do texto: T2240871
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.