O TELEFONEMA

O telefone toca e alguém atende.

Antes mesmo que se falasse o tradicional alô, a pessoa do outro lado da linha começa a falar:

-Sabe, eu estou muito triste hoje. Minha vida não está nada fácil, nem sei mais se vale a pena continuar vivendo. Estou prestes a fazer uma loucura.

- Eu estou desempregado você sabia? Tenho profissão, experiência, mas ninguém me aceita pois acham que pelos meus quarenta e dois anos já estou velho demais, isso é justo?

- Por conta da falta de emprego, de dinheiro, minha família resolveu ir embora, me deixar. Minha mulher vivia me dizendo que eu era imprestável, não servia para nada, nem para sustentar a casa, portanto partiu deixando-me sozinho com minhas dores e frustrações.

- Logo ela que eu pensei que nosso amor era acima de qualquer coisa, e que nenhum obstáculo pudesse nos separar.

- ela que durante a época boa da nossa vida, a época em que eu tinha um bom emprego, ganhava super bem, gastava sem controle com roupas, sapatos muitas vezes sem necessidade, promovendo almoços para as amigas.

- Casa não tenho mais porque deixei de pagar o aluguel e o meu senhorio me despejou sem ao menos me dar uma chance. Eu ainda tentei argumentar que tudo era passageiro e que as coisas iriam mudar em breve, assim que arrumasse um emprego, mas ele não quis nem saber.

- acho que estou velho demais mesmo porque ninguém mais me dá uma chance sequer.

- O quê? Meus parentes? Esses foram os primeiros a sumir. Quando eu os procurava, apenas para conversar, desabafar, eles davam uma desculpa, diziam que estavam muito ocupados e me deixavam falando sozinho.

- Meus amigos, que eram muitos, desapareceram todos depois que acabaram as festas e os churrascos nos fins de semana. Hoje quando os encontro eles fingem que não me vêem.

-Agora estou sozinho, ninguém se interessa por mim, todos me abandonaram por isso é que eu acho que a vida não vale mais a pena. Preciso acabar logo com isso.

Esse desabafo durou cerca de uma hora e meia aproximadamente.

- Vou livrá-los da minha presença aqui nesse mundo tão cruel, fala ele, chorando muito.

E ele chorou por uns quinze minutos mais ou menos e quando finalmente se recupera da crise de choro fala em tom mais claro e sereno:

- Obrigado, você foi a única pessoa que me ouviu durante esses últimos tempos. Já estava me sentindo a pior das pessoas, mas graças a você que me ouviu até agora pacientemente e sem nada dizer eu tomei uma decisão:

- Vou levantar a cabeça e lutar, lutar como nunca lutei antes e vou vencer pode ter certeza.

_ Me matar? Agora vou nada. Você me fez ver que essa atitude não resolverá meu problema. É melhor ficar por aqui e lutar e é o que vou fazer.

- Mais uma vez, muito obrigado.

Desligou o telefone.

Poucos minutos depois toca novamente o telefone e dessa vez quem atende pode finalmente dizer:

CVV, boa noite!...

**Em homenagem aqueles anônimos que através do seu silêncio,transformam vidas,acalentam corações ,enxugam lágrimas e colocam seus ombros à disposição dos desesperados,numa atitude autruista e caridosa.**