O livro ou a sabedoria?

“Apagaram tudo pintaram tudo de cinza

O mundo é uma escola.

A vida é um circo”

Esta é parte de uma canção de Marisa Monte em homenagem ao profeta Gentileza que escrevia nas ruas da cidade. E de repente apagaram tudo o que ele escrevia. E é com ela que inicio este texto para dizer-lhe a minha surpresa quando ouvi da professora um relato sobre um aluno que detalharei à seguir:Agora eu pergunto o que vale mais o livro ou a sabedoria? Para nós mestres da vida e da educação ficaríamos em dúvida. Mas para o aluno em questão foi o livro, com certeza! Andando pelas ruas da cidade e com a sua realidade dura e crua de cada dia. Catando latinhas uma aqui outra acolá. O menino avistou um certo Mário esquecido nos lixos da cidade. Mas quem era o Mário? Para alguns com certeza não teve importância nenhuma; mas o poeta de prosas e versos estava ali com suas ideias sobre São Paulo sujas de dejetos,sua elegância, arrogância, ciúmes, todos no lixo e agora sem luz, sem bruma , jogadas, amassadas; sem dó , sem vida; sem comoção.Sem o seu São Paulo da Garoa o que seria dele? Mas não, alguém resgatou o Mário. Esse é o Mário de Andrade o lá da minha escola como eles costumam dizer.

Quando a leitura é significativa, não passa mais incólume um livro como esse,pois a leitura de mundo faz parte da sua realidade agora tão clara, tão cheia de luz. Quem sabe o menino com suas dificuldades silábicas abriria os olhos pra ver e enxergar com exatidão o mundo das letras.

Com o livro em seu poder, rumou à escola, afinal quem iria achar ruim. Era lixo mesmo! Mas não para ele, pois chegar na escola e mostrar a sua mestra que ele havia resgatado o Mário.

Oh! Quanta emoção! O M Á R I O D E A N D R A D E... As letras tinha tanto significado agora? Talvez não as letras, mas a imagem do escritor que o fizera lembrar das aulas, dos relatos dos amigos, das apresentações em sala de aula que não deixou passar despercebido, o Mário!

“Mas eu não sabia o que fazia com ele quão grande foi a minha emoção! Fiquei na dúvida se o repreendia por ele ter ido pegar algo do lixo, ou se o abraçava com alegria por ele ter absorvido com tamanha devoção o poeta estudado”,relatou a professora com lágrimas nos olhos.

É professora, o Mário que dizia “Quando eu morrer quero ficar, sepultado em minha cidade,Saudade. Não contem aos meus amigos”

Em cada canto de São Paulo Mário de Andrade queria deixar um pedacinho dele na cidade em que morava e idolatrava. Mas no lixo, não! Ah, isso só mesmo uma criança para resgatá-lo de tamanha ingratidão. Mas com certeza aprendemos com este certo Mário de Andrade que escreveu com carisma:”AMAR VERBO INTRANSITVO” que amar é um verbo que não precisa de complemento.

É isso, amar a nossa profissão e fazer dela o nosso próprio exemplo de vida é alimentarmos de pura emoção o pão nosso de cada dia, professora! É só com exemplos como esse que passamos verdadeiramente amar os Mários, os Quintanas, os Drummonds e essa literatura toda que nos rodeia pintando tudo não de cinza, mas de colorido os nossos dias!

Cláudia Rodrigues.