O acaso

Eu sabia que iam perguntar-me, então, sem demoras joguei-me no precipício.

O relógio apitou, era 04h: 40 min da manhã; o que fazer? Com quem falar?

Ouço passos cada vez mais lentos e um sussurro estranho toma-me o fôlego e batidas aceleradas do meu pobre e velho coração.

Não consigo gritar, não consigo nem mesmo respirar, mas pergunto sufocado.

__ Quem está aí? Quem?...

__ Toc; toc; toc... Eu só ouvia um solado duro e estridente. Seriam elas? Malditas!

Não consegui sair do lugar no qual eu permanecia intacto, imóvel, intocável. Sentia a além morte o além estar à deriva e nada era tão doloroso quanto aquela situação.

__ O que vocês querem? Perguntei com um fio de voz quase impossível de se ouvir. Não obtive resposta alguma.

__ Toc; toc; toc;... O barulho aproximava-se; o ser estranho mudava de posição como se tivesse inquieto; a procura de algo. O meu pedido de socorro estava reprimido, a minha coragem foi usurpada, minhas armas estavam mórbidas. O que fazer? Com quem falar?

Não fui feito para essas coisas da vida; as únicas armas que eu tinha estavam mórbidas. A demora de morrer deixava-me louco. Preferia que o ser aparecesse logo e acabasse com essa agonia. Prender-me-iam nos braços arames farpados, aos gritos, desesperado, garras fincadas, socos e tiros no coração, espanando sangue naquele chão e em seguida jogar-me-iam no fundo de um mar qualquer, mas,naquele momento, nada disso aconteceu.... O ser queria senti lentamente o meu sofrimento. “Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação a portas fechadas, e às escuras, retrata a vida e a alma de cada um, com as cores das suas ações, dos seus propósitos e dos seus desejos.”

Aquela amargura deixava-me frustrada, "travam-se gosto e dor; sossego e lida... É lei da Natureza, é lei da Sorte Que seja o mal e o bem matiz da vida!”.

__ Perguntei: Se tu queres minha alma; meu sofrimento e não a minha carne mórbida porque demoras? __ Venha já! Quem é você?

Aquele barulho estridente não era mais o mesmo, agora era um ploc; ploc;ploc... Seria um lapso de memória? Uma ilusão auditiva? O que fazer com quem falar?

Dias depois, uma criança correu avisar ao corpo de bombeiros que havia um corpo boiando próximo às rochas em que as águas da cachoeira despencavam.

Eu mesmo matei-me; não aguentei suportar em vida aquela pressão psicológica de gotas caindo no chão e janelas entreabertas batendo ao soprar do vendo. Preferi o afago da escuridão do que enfrentar a realidade.

...

Dani Drummond
Enviado por Dani Drummond em 21/07/2010
Código do texto: T2391639
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