BOLETIM DE OCORRÊNCIA (conto curto)

Ela tinha uma fraqueza: era curiosa. Abriu um pequeno buraco no muro de concreto. Maravilha! Podia ver tudo o que a vizinha da esquerda fazia no quintal. Reparava nas roupas do varal. Encardidassss! As plantas? Mortas, raquíticas! O papagaio? Desbotadoooo! A vizinha? Quase uma bruxa com sua vassoura juntando as folhas secas! Ai, que bom ficar a manhã inteira espiando, espiando...

Bisbilhotou, bisbilhotou! Bisbilhotou até o dia em que foi intimada a comparecer na delegacia de polícia. Um B.O registrado contra ela! Alegação? Bisbilhotice da vida alheia. Meu Deus! Tinha sido descoberta no seu mais íntimo papel: o de intrometida, xereta e abelhuda. Mas como? Como poderiam tê-la visto? O buraquinho era tão minúsculo...

Diante do delegado, o mistério desvendado: tinha sido flagrada pela vizinha da direita. Como assim? Simples! A outra também tinha um buraquinho de bisbilhotar... Atualmente, o processo corre na justiça. Detalhe importante: a passos lentíssimos. Sim! A briga tá feia! Porque a bisbilhoteira I recorreu contra a bisbilhoteira II. Ah, recorreu! Não ia deixar barato, não! Sua queixa? Invasão de privacidade... É muito mais chique, né, não?