Meus Amados: A Cobra

Mestre Abimael, conhecedor dos profundos dinamismos da cerâmica, escultor pouco conhecido, mas sem igual. Estou indo a casa dele, no caminho vou pensando o quanto eu perturbo aquela família: Ismael, D.Maria, Josa; todos os dias sem falta passo por lá para tomar um cafezinho e fumar um cigarrinho após o café. Chegando lá, conversamos sobre coisas corriqueiras, palavras de fé (da Bíblia), pois somos todos evangélicos. Falamos das biritas de Irmat (nome artístico de Ismael), só vive biritando.

- Meu Deus, Robson, tenho que parar de beber, e eu digo:

- E eu tenho que parar de fumar.

Num desses dias estávamos falando sobre o passado e seu Abimael nos conta uma história que aconteceu quando ele tinha dez anos de idade.

Morava em Campina Grande, numa casa grande, onde de lado tinha um cortiço da própria casa, o pai de seu Abimael também era ceramista e fez esses quartos paralelos, mas com os outros, onde o banheiro ficava também neste cortiço, e quando acordavam todos saiam da casa e iam ao banheiro.

Vizinho a esse cortiço tinha uns pés de aveloes, onde dava muita cobra jararaca.

Certo dia seu Abimael queria assustar a irmã, que era muito alvoroçada, se assustava com qualquer coisa, e era aquele estardalhaço.

Seu Abimael pegou e fez uma jararaca idêntica as que apareciam no quintal, bem pintadinha, perfeita. Ele acordou mais cedo e a colocou perto do banheiro que era caminho por onde todos passavam para irem ao wc, ficou tocaiando. Esperou, esperou, esperou e ninguém ainda tinha aparecido.

Depois de muito tempo saiu e esqueceu o que tinha feito. Deu vontade de fazer xixi, ele então vai no caminho e encontra, além da cobra falsa que ele tinha feito, mais duas de verdade. Grita, grita. Pai, pai, pai. O pai vem já com o pau na mão para matar as cobras, matando-as, a falsa se desmanchou em areia. O pai dele grita: - Abimael! Abimael!

Seu Abimael já esperando a surra, vai bem devagarinho.- Que é pai?

- Você, heim! Não recebeu a surra, mas o susto valeu por esta.

CONCURSO

Um, dois, um dois. Quartel. Seu Abimael marchando, o sargento manda parar, e fala de uns concursos, seu Abimael esperando ser promovido vai fazer os testes que estão sendo feitos no refeitório.

Testes psicotécnicos, seu Abimael fazendo e passando de um por um. Terminou os testes, a vida no quartel continua. Seu Abimael! Apresenta-se no escritório para ir para marinha, pois passou no concurso. Ele se apresenta e diz que não quer, porque não sabia para que era o concurso e fez por fazer (colocando entre os primeiros lugares). O sargento fala para ele que arranjasse outro para pôr no lugar dele, pois não podia ficar sem.

Seu Abimael sai e encontra do lado de fora um soldado chorando inconformado, não tinha passado no concurso da marinha e seu sonho era ir para marinha.

Seu Abimael então vem como tábua salvadora, diz que fosse no lugar dele. Ele não acreditou. Seu Abimael insiste e o convence.

Pode parecer totalmente natural esta história, se não fosse pelo que tinha acontecido depois:

Passam-se trinta anos e seu Abimael conversando com um sargento da policia, começa a falar da vida no tempo do quartel, e ouve comentários sobre esta história do sargento de policia. O sargento contou a ele que o irmão dele estava no quartel, fazendo um concurso para marinha e não tinha passado, ficando desconsolado, e lhe aparece outro soldado que oferece a vaga pra ele. Ele faz carreira e depois de algum tempo numa viagem o barco afunda e ele é tido como desaparecido. Assim contou o irmão do soldado.

Robson ErisonO
Enviado por Robson ErisonO em 20/08/2010
Reeditado em 24/09/2010
Código do texto: T2449122