PROFESSORA NO RIO DE JANEIRO

A aula estava terminando e as crianças brincavam livres com seus brinquedos, a tv estava ligada, eu cuidava da sala para irmos embora, foi ai que ouvi um grito pavoroso em seguida um choro alto de criança, pensei, ai meu Deus! alguém se machucou agora no fim do dia, corri para as crianças que estavam embaixo da minha mesa, é importante dizer que são crianças de dois e três anos, olhei todos ,e estavam bem, parei para observar e me arrepiei, eles estavam dramatizando a batida da policia no morro. Era uma cena tão rica em detalhes, que na hora revi tudo que já li sobre crianças, Freud, Piaget... e nada me dava suporte ao que fazer naquele momento, sempre fui contra brincadeiras de armas, sempre que uma criança monta uma arma de brinquedo e usa nas brincadeiras, eu cortava e dava outra opção de brincadeiras, achava que brincar assim poderia valorizar a violência, mas hoje tive que permitir e me limitar a observar, eles diziam com seu pobre vocabulário:

- É a polícia!!!

- É os bandidos!!! se movimentavam na sala como se tivessem ensaiados, os meninos com o dedo apontado como arma, faziam som de disparo, outros o som de bombas, as meninas em desespero, ninavam um boneca e imitava um choro de neném em desespero.

JÁ passei por tiroteio dentro da sala de aulas com crianças bem pequenas, mas nunca vi o combate, eles não, pela riqueza de detalhes é nítido que viveram aquilo ao vivo.

Pobre crianças! no inicio da vida e já estrelam seus próprios dramas, não sei o que fazer para amenizar, tento beijá-los todos os dias ao chegar, eles esperam os beijos como um presente, as vezes é o único do dia se duvidar de uma vida, pra nós que tivemos poucos filhos, tivemos tempo para beijá-los todas as noites ler história antes de dormir, preocupações com o físico e o emocional...é difícil imaginar que um bebê aos dois meses é largado pela mãe, ou que uma criança viu seu pai matar sua mãe, o outro perdeu o pai nas férias, e a mãe está presa, essas crianças ainda brincam, são meigas, sorriem muito, adoram histórias, fazer trabalhinhos...Enfim elas conseguem sobreviver e se oferecemos o mínimo de amor, elas reagem bem e isso é uma esperança de futuro melhor.

O teatro, age como remédio, se eles brincam com aquela dor, ela diminuí e a dor passa, mas se elas ouvem fogos ou outro barulho, todas choram e perguntam:

- É tiro tia?

- Digo que não, é o Brasil que está jogando, ai eles acalmam, quem fica aflita sou eu...

Essa é a vivência de uma turma em sala de aula, nos dias de hoje no Rio, agora a violência saiu dos guetos e democratizou, para toda as classes social, mas certamente essas crianças são as maiores vítimas, tomara Deus que um dia isso realmente acabe, em todas as comunidades do Brasil e do mundo.

É com muita alegria que nas festas me visto de palhaça, boneca e até Papai Noel já fiz, eles merecem muito lúdico para amenizar a dureza da realidade em que vivem.

Os nossos governantes querendo melhorar o nível do ensino público, acho lindo, quando leio em algum lugar os questionamentos e a cobrança aos professores. Eu pergunto como uma criança pode aprender, vivendo em uma atimosfera de terror? Como um professor pode tornar sua aula mais atraente, se a tem que interromper para junto com a turma buscar um local, pseudo, mais seguro? É muito fácil teorizar em uma sala longe do conflito, julgar e condenar o professor, quero ver é passar uma semana em uma sala de aula e junto com o professor elaborar um planejamento que possa realmente motivar crianças e funcionários que vivem a beira de um ataque, tamanha a guerra urbana em que vivemos. Primeiro é preciso resolver o problema o fim dessa guerra, depois ouvir o professor, e elaborar conteúdos que tenham haver com aquela comunidade, a educação tem que ser como uma roupa sob medida, não vale empurrar conteúdo de cima pra baixo, é preciso ter sabedoria e utilizar o conhecimento dos profissionais que conhecem sua clientela pelo nome, ai a escola será mais atraente e certamente tudo será melhor, mas não é mágica, isso demanda tempo e dedicação.

Já demos alguns passos importantes, realmente muito já se fez para melhorar, nos anos oitenta fiz estágio numa escola pública que só tinha quadro e giz, crianças famintas que não jantavam e na escola não tinha merenda. Hoje merenda não falta e o material didático é muito bom, vemos que há um grande investimento em livros infantis, brinquedos, que na educação infantil não pode faltar, porque é a fase mais importante do ser humano, se despertarmos o gosto a leitua, ao questionamento com jogos, dramatização e bricadeiras livre, nessa fase, teremos no futuro alunos com senso crítico, que vão gostar de ler e certamente escreverão melhor.

estamos no caminho certo, a educação tem um futuro com alguma luz no fim do túnel, e isso é a base do crescimento desse país, pois quando nosso povo aprender, realmente, ler e questionar, a politica mudará e com essa mudança sairemos das trevas da corrupção e subjulgação das classes dominantes que estão no poder a vida inteira desse jovem país.

Glória Cris
Enviado por Glória Cris em 02/09/2010
Reeditado em 03/09/2010
Código do texto: T2474911