Visita ao passado

Sorri como não sorria há muito tempo. Aquela era a minha casa. Não aquele prédio enorme, naquela cidade barulhenta. Aquela sim era minha casa.

Ficava numa cidadezinha do interior, daquelas que se houve até a respiração dos habitantes. A casa? Era muito simples. Amarela, baixinha, um só quarto.

Entrei. A sala não era mais a mesma. O mofo e os ratos agora reinavam. Um cheiro insuportável veio inundar minhas narinas. Mas, ao olhar aquela parede branca, aquele sofazinho rosado, as lembranças encheram minha mente e carregaram tudo: mofo, ratos e tudo que empesteava o ar.Lembrei-me de quando eu era criança, ou melhor, quando nós éramos crianças: eu e Júlia.

Júlia, minha irmã adotiva, era pequena e muito frágil. Gabava-se de sua coragem, mas sempre era meu nome que ela gritava nas horas difíceis.

– Ana!

– O que foi agora, menina? Não vê que estou ocupada?

– Aquele garoto, o filho da Dona Laura, pegou minha boneca de novo!

E lá fui eu. Naquela e em muitas vezes depois. Mas a boneca se rasgou um ano após resgatá-la. Dona Laura enfartou aos 70 anos. Seu filho foi estudar na França. E Júlia morreu.

A casa já não é minha e não moro mais naquela cidade pacata. Mas nunca vou esquecer daquela casa amarela e de tudo que lá vivi.

Sofia Garden
Enviado por Sofia Garden em 24/09/2006
Reeditado em 24/09/2006
Código do texto: T248223