MENTE QUE SE APAGA

Ela é da Bahia, mulata, forte, muito forte, olhar triste e feroz, o coração muito grande, desapegada dos bens, caridosa, espalhafatosa, fala alto e a primeira vista assusta, mas na segunda vista, dá vontade de ficar deitada em seus braços de mãe.

Seu filho demorou sete anos para nascer. Após casar, não foi fácil, nada de filhos, os anos foram passando, só após uma promessa, mas acho que lá no seu coração elas chorou muito, e entendeu porque esse filho demorou, não foi um bom filho, não foi um bom marido, não foi um bom pai, mas o amor se fez, meio torto, meio agredido, meio violentado. Amor é uma daquelas flores de Deus, que nos lugares mais impossíveis, nascem assim mesmo.

Mulher da terceira idade, alegre, passeios, reuniões, festas, grupos. Seu neto chegou. Que alegria! presente de vida...

Distância se fez, a mente começa a falhar, o passado se faz presente, forte e seus pais a muito já mortos, parecem que a esperam em uma casa que não é essa. Faz as malas quer voltar pra casa, chora, briga, não se sente amada, na verdade acho que nunca foi.

Seu marido tinha outra família, seu filho a ignorava, suas irmãs a aturava,

amor mesmo, daqueles que faz a paz no coração, esse não conheceu. Seu corpo se fechou para o sexo após a morte de seu marido, nunca mais homem nenhum.

Agora está partindo dessa vida lentamente, sua mente adoeceu e está desligando, seus familiares não entendem a doença, não permitem ajuda, não buscam uma leitura sobre o tema, estão adoecendo juntos, dá pena vê-las, tão sozinhas, lutando com o desconhecido, nessa hora faz uma enorme diferença, a falta de cultura geral, a leitura de muitos temas, a visão de mundo mais ampla, para quem está de fora resta rezar e pedir que essas pessoas tenham forças, para suportar tamanha dor.

Mas nos poucos momentos de lucidez, essa senhora ainda deve olhar sua casa, seu cheiro forte de frutas, e deve sentir-se um pouco confortada, porque essa família de irmãs, são de grande forças e não a abandonou, ainda não sabem externar amor, mas lá no fundo já sabe amar, do seu jeito meio torto, meio cúmplice, amam os seus, só os seus, já é um inicio.

Tomara que essa senhora possa voltar aqueles momentos da infância, em que era uma menina que nadava no rio, que batia nos meninos, que tinha uma vida de sonhos. que tinha seus pais por perto e possa partir antes que a doença a faça esquecer de respirar.

À QUERIDA LEÓ, QUE SE FOI NA QUARTA-FEIRA (09-02-2011)

Glória Cris
Enviado por Glória Cris em 19/09/2010
Reeditado em 12/02/2011
Código do texto: T2507251