Entrevista de Emprego

Um homem comum, trajando um terno preto comum, entrou em um quarto comum de um hotel comum. Nada além do normal para um observador que por acaso visse aquela cena. Certamente alguém que visse aquilo acusaria de pronto o homem: “Canalha! Traindo a esposa!”

O hotel, em seus quatro andares, possuía trinta quartos. Algumas décadas atrás aquele fora um hotel respeitado: banqueiros ricos, políticos influentes e celebridades famosas hospedavam-se nos quartos que agora, decadentes, serviam como motel para homens comuns, como aquele de terno preto, que levavam mulheres, na grande maioria prostitutas, e transavam até a hora em que tinham que voltar para casa e jantar com suas esposas e seus filhos como se nada houvesse ocorrido.

O homem de terno preto entrara num quarto do segundo andar. O número da porta caíra, contudo o recepcionista garantira-lhe que a moça de vermelho estava naquele quarto esperando por ele. “Uma bela moça!” Comentara, antes que o homem sumisse atrás das portas do elevador ao lado da recepção.

O interior do quarto estava totalmente escuro exceto pela luz do corredor que entrava pela porta aberta e pela fraca luz amarela de um abajur, que repousava sobre um criado-mudo ao lado da cama de casal no centro do quarto. O homem entrou e ficou parado a meio metro da cama. Fechou a porta ao passar, mergulhando novamente o quarto na quase escuridão.

Meio minuto se passou até que a mulher quebrasse o silêncio. Ela estava sentada na cama com as costas juntas à antiga cabeceira de madeira e por isso estava escondida nas trevas exceto pela faixa que ia dos seios até metade das coxas na qual a luz do abajur incidia.

- Vamos direto ao assunto?

Não era possível distinguir sua feição: seu rosto estava escondido nas sombras, contudo o homem expressava claramente uma mistura de nervosismo e dúvida. Engoliu em seco e respirou fundo preparando-se para falar:

- E-Eu...

- Calma. Eu sou profissional. Pode confiar em mim. – A voz da mulher era como música, enchia os ouvidos do homem deixando-o apenas mais nervoso. Ela falava lentamente demonstrando a calma de quem já estava acostumada a esse tipo de situação. – Não precisa se preocupar. Sempre ficam nervosos na primeira vez que me contratam.

Ela se levantou e o homem conseguiu ver seu rosto enquanto ela caminhava até ele. Ela era realmente bela. “Meu Deus. Como é possível que uma mulher tão bela possa ter essa vida?” Pensou enquanto se preparava para falar:

- Você sabe o que tem que fazer, certo?

Ela passou a mão no rosto do homem e sentou na cama à frente dele.

- Claro que sei. – Falou cheia de orgulho. Não sentia remorso nenhum da sua profissão. – Só preciso que você pegue o que eu pedi.

- Aqui está.

O homem entregou um pedaço de papel, com algo escrito em letras garrafais, à mulher e recolocou a mão no bolso direito da calça.

- Perfeito! Então começarei imediatamente o meu trabalho. – Ela tinha um sorriso malicioso que completava o seu tom de voz.

Ela verificou o que tinha escrito no papel: um endereço.

- Espero que sim! – O homem respondeu com uma segurança fingida e virou-se de costas à mulher.

Ele deu dois passos antes de cair morto. A fraca luz do abajur refletia na ponta de metal do silenciador da pistola que a mulher segurava. Calmamente ela guardou a arma, levantou-se e caminhou até a porta parando ao lado do corpo inerte do homem que jazia morto:

- Entenda. Eu não tenho preferências. O problema, para você, é que sua mulher me contratou primeiro. – Virou-se na direção da porta e saiu encerrando o cadáver do homem comum de terno preto comum nas trevas.

[Esse texto já foi postado há algum tempo, contudo o apaguei indevidamente.]

Brunno Andrade
Enviado por Brunno Andrade em 19/10/2010
Código do texto: T2566564
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