Cenas do rio

Dia de sol muito quente. Convidativo para uma pescaria lá na curva do rio perto do pedrão.

Árvores frondosas, flamboyants, sibipirunas ou ingazeiras que vergavam até que os ramos tocassem o espelho d'água.

Espreguiçando na pedra quente estava um enorme teiú, que mostrava a língua constantemente. Sempre ficava alí.

Sonolento e só, lá estava concentrado o pequeno pescador, sentado em uma pedra. Latinha de minhocas ao lado e angu de fubá como iscas e a quirera como atração. Logo juntava um cardume!

Quanto peixe tinha o Panema!

Na fieira presa em um ramo já tinham vários peixes: pequenas piavas, canivetes, acarás, lambaris e tambiús, que eram deixados n'água. Era a forma de mantê-los mais conservados.

De repente, um barulhinho de pedrinhas rolando atrás, antes do caminho entre o barranco e o rio.

Olhou rapidamente para verificar o que era, e dá-se com uma serpente ligeira atrás de uma pobre rã, que saltava desesperada em busca do refúgio n’água.

Não dá para esquecer os olhos esbugalhados de pavor daquela rãnzinha, fugindo da jararaca.

Com alguns saltos, como nunca tinha visto, já havia atravessado a estrada, salta muito próximo do pescador e rápida alcançou o rio num mergulho de salvação.

A cobra, vendo perdida a presa, já meio desenxavida, faz meia volta rastejando, vê ainda o pescador petrificado que assistiu a cena, e desaparece entre as rochas do lugar. Com o estômago vazio, a serpente certamente permanecerá à espreita, quiçá de outra rã com menos sorte, que desprevenida irá saciar as necessidades da peçonhenta.

Volta-se depois o pescador a fisgar mais um lambari. Quando vai colocá-lo na fieira, mais uma surpresa. Bem aos seus pés, outra cobra se alimentava de seus peixes. Alguns já pelo meio, outros só com a cabeça na fieira. A outra rastejante alimentava-se tranquilamente da sua produção.

Em um salto de pavor para trás, o pescador aos poucos se refaz do susto meio que tropeçando nas pedras. A barriga gelada de pavor, o rosto branco, lívido sem sangue pela adrenalina liberada em segundos aos borbotões. Tão pertinho dos pés que se refrescavam na água fresca do rio.

Refeito, pega umas pedras e as atira em direção à Jibóia, que espantada, mergulha no rio e desaparece.

Que lugar esse! Quantos répteis, e ele pescador menino sempre por ali reinando, parte da natureza, livre!

Sempre defronte com o perigo das coisas do cotidiano, mas seu anjo da guarda, incansável de sua delegada missão quase impossível, o olhou a vida inteira!

À noitinha, em casa, antes de dormir, repetia a reza que sua mãe lhe ensinara:

"Santo anjo do Senhor

meu zeloso guardador

se a ti me confiou a piedade divina,

sempre me rege,

me guarde,

me governe,

me ilumine!

Amém."

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 20/10/2010
Reeditado em 23/10/2010
Código do texto: T2568799
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