DST

(À um colega que já partiu)

Ele era um jovem de uns dezoito anos, branco, pequeno, magro, cabelos cacheados, quase louros, olhos claros. Um menino desorientado. Se assumiu gay, mas vindo de Austim, interior do Rio, não era fácil, sua família pois o peso do preconceito nos seus ombros.

Trabalhávamos juntos em pequenos shows em festa de aniversário de crianças ricas. Ele as vezes era o príncipe, eu a boneca Emília ou algum super herói...

Me lembro como se fosse hoje, um dia lhe falei, está sabendo sobre a AIDS? ele disse que ouvira algo a respeito, não demonstrou grande preocupação, nessa época, inicio dos anos oitenta, essa era uma doença de gays, mas já me preocupava, pisei no freio na minha sexualidade, afinal a linha que separa um gay de um não gay é impossível de se determinar onde está, ainda mais eu que vivia no posto seis e via quem frequentava os bares da Galeria Alaska. Homens acima de qualquer suspeita, casados, exibindo sua enorme aliança de ouro, namorando um ou dois travestis, nos bares da orla.

Esse colega mesmo, cansou de sair com o pai do aniversariante, ou algum convidado, após a festa, eles iam para uma orgia particular. Em função desse comportamento, soubemos de várias famílias que a AIDS, detonou, matando pai, mãe e o que é pior até filhos...

Ele tinha um amante, que adorava, mas o homem deveria ser um cavalo, visto que o pobre rapaz foi internado para reconstrução anal, quando soube disso fiquei achando que o caso ia terminar, é a lógica, mas não, ele continuou e sofreu muito com esse amante.

Estudou inglês, trabalhou com turismo, ficou super bem financeiramente, passou a frequentar a alta sociedade e a classe artística, fiquei feliz por ele. Após muitos anos ao perguntar soube ele, soube que havia contraido AIDS, e morrera lá em Austim, muito debilitado e cercado de preconceito. Na hora, o vi sentado ao meu lado em um ônibus, no banco da janela, no Aterro do Flamengo... eu o alertando e... por que não me ouviu seu burro? Poderia ter sido feliz, está vivo até hoje... Ter encontrado um amor de verdade. Conheço alguns casais homossexuais que vivem juntos uma vida, trabalham, são respeitados, criam filhos, é possível essa felicidade. Mas infelizmente aquele menino se perdeu em uma busca sem limites, e sua vida foi só dor, infinita dor.

Casos atuais: (Todos reais), um menino de treze anos, contraiu AIDS na sua primeira relação. As mães em geral se preocupam com suas filhas, para não engravidar, e os meninos ficam liberados...É ai que mora o perigo!

Uma linda mulata foi ao posto de saúde fazer o preventivo e após sua saída a enfermeira comenta: útero perfeito, corpo lindo, aparência saudável, quem diz que é portadora do HIV?

É por essas e outras que não abro mão do preservativo, só tenho pena de algumas mulheres casadas, que praticamente são obrigadas a fazer sexo sem preservativo, com seus maridos, que na maioria, sai sabe-se lá com quem?

Hoje o HIV e as demais DSTs, deixaram de ser doenças, apenas de gays e prostitutas e democratizou, os maiores atingidos no momento são os idosos, as mulheres casadas e os jovens...