A Menina Atacada

Era de manhã, uma menina descia a rua com uma cesta de compras nos braços. Seu corpo franzinho já aparentava traços de mocinha. Passou apreensiva por um grupo de moleques, e continuou descendo a rua. Mais à frente dois bêbados a cercaram.

- Vem cá, menina. Dá uma beijoca!

- Não foge não, vamos fazer um xameguinho… – Um deles puxou uma peixeria e ameaçou a menina, que se viu encurralada perto de um beco. Não tinha mais saída. O bêbado levantou o vestido dela com a ponta da peixeira. – Jeitosinha…

Nisso dois meninos começaram uma briga, um xingando o outro em altos brados.

- Te quebro a cara, seu filhote de urubu.

- Ah, é? Então vem me pegar! – catou uma pedra e arremessou em direção ao outro, acompanhada de uma porção de xingamentos.

Começou então uma troca de pedradas. Curiosamente as pedras estavam acertando as portas e janelas das casas vizinhas. Por um momento os bêbados se distraíram. Foi o tempo dos outros moleques passarem correndo por eles. Um dos moleques tomou a cesta da mão da menina, os outros a arrastaram para o beco.

Zé de Totonho, o Guarda, que estava tomando café num bar da esquina, logo chegou para ver o motivo da gritaria. Um dos moleques correu em sua direção, trombando com ele. Foi agarrado pelo cangote.

- Que é que há, moleque?

- Aqueles dois bêbados ali perto do beco estavam tentando agarrar uma menina. Eles ameaçaram ela com peixeiras.

Zé de Totonho rapidamente entendeu o recado.

- E a menina, cadê?

- Os outros moleques levaram ela pelo beco. Ela é de lá da Rua do Cruzeiro…

Soltou o moleque e soprou um apito. Outro guarda, que também estava tomando café, veio correndo.

- Que houve?

- Encrenca. Venha. – na rua algumas pessoas tinham saído de suas casas e observavam curiosos.

- Vocês dois! Que história é essa de agarrar meninas?

Os bêbados sacaram as facas. Parecia que a coisa ia ficar feia, mas Zé de Totonho acabou com a valentia deles, dando um tiro no chão. Rapidamente jogaram as peixeiras. Alguns homens ajudaram a imobilizá-los e levaram os dois para a cadeia, guiados por Zé de Totonho.

- Agora vamos mostrar a vocês que Alagoinha é uma cidade de respeito!

***

Os moleques arrastavam a menina pelos becos, quase correndo. Atravessaram quintais e finalmente chegaram a um terreno abandonado, mato alto. A menina estava aterrorizada.

- Não bulam comigo. Não me machuquem! – dizia entre choros.

Os moleques riram. Um deles tomou a frente.

- A gente só queria livrar você daqueles bêbados. Mais um pouco estamos na rua do Cruzeiro e não tem mais perigo. Venha.

Atravessaram o mato e finalmente chegaram à Rua do Cruzeiro, onde a menina morava. Ela suspirou aliviada.

- Tome aqui sua cesta. Tá tudo aí. Ainda bem que não caiu nada pelo caminho.

Ela pegou a cesta e segurou com firmeza. Começou de novo a chorar.

- Já disse que não tem mais perigo. Já estamos na rua de sua casa. Vá embora. Por que está chorando?

- É… bobeira… – disse entre soluços e lágrimas – Obrigada… – e foi embora apressada.

Pouco depois os outros dois moleques chegaram.

- Nossa! Quase deu encrenca! Ainda bem que Zé de Totonho chegou e prendeu aqueles dois. Eles ainda quiseram brigar, mas Zé deu um tiro no pé deles… – informou um deles.

- Acho que até mijaram nas calças! – emendou o outro. – agora estão lá na cadeia. E a menina?

- Tava morrendo de medo. Chorou um montão. Até achou que a gente ia bulir com ela. Tadinha!

- É… tadinha! Aqueles cabras merecem uma boa surra… sem-vergonhas… Venham, vamos caçar o que fazer.

E a turma logo tinha desaparecido pelos becos. Iam caçar o que fazer…

Leiam também:

O Ratinho de Carretel

A Queda da Casa de Maria Gorete

Dalvinha, Rainha da Festa