Tédio
Diogo sentiu suas costas deslizarem distraidamente pela madeira morta. As palavras pareciam dissipar-se no longo caminho que se estendia entre a língua treinada do mestre e o ouvido dormente do aluno. O ponteiro se arrastava, desgostoso, pelo mostrador do relógio. O dia não tinha pressa a passar, torturava professor e pseudo-estudante sem a menor culpa.
Era assim que tinha de ser, havia uma espécie pacto mudo entre os dois: um fingia que ensinava e o outro, que aprendia. Dia após dia, aula após aula, bocejo após bocejo...
Tique taque, sussurrava o relógio tímido. Mas para Diogo era um suplício: TIQUE TAQUE, ouvia o jovem. Os tique taques se avolumavam, mas nada da aula acabar...
O professor já nem se preocupava em fingir dar aula. Largou o livro na mesa, assentou o traseiro gordo e pôs-se a arrumar pacientemente cada fio de seu farto bigode. Que raios de “aula” era aquela que não tinha fim?!
Então a porta se abriu e uma bela senhora iluminou a sala. Trazia os cabelos presos severamente em um coque no alto da cabeça, mas um doce sorriso atenuava-lhe a expressão. Era a mãe de Diogo.
- Acho que a aula acabou, professor. – disse Diogo com um sorriso irônico.
O homem voltou-se para a senhora que confirmou as palavras do filho.
- Está dispensado, Leal.
Finalmente! O anjo viera lhe trazer a alforria.