O Anjo (reeditado)

O Anjo

12 de outubro. Era o ano de 2002 e eu estava num Fórum em Porto Alegre sobre Evangelização. Era final do curso.

Eu e minha colega fomos conduzidas pelos corredores silenciosos e semi escuros da casa de acomodações dos Ir. Maristas até o quarto onde dormiríamos. No dia seguinte às oito horas começaria o Fórum de término do curso que estávamos fazendo. Todos já estavam dormindo. Nós fomos os últimos a chegar, pois éramos os que moravam mais distante. Ao todo éramos doze professores da escola de Rio Grande.

Minha colega de escola era também vizinha de meus pais e eu conhecia toda a família dela. Depois de um banho reconfortante, cada uma preparou-se para dormir enquanto conversávamos.

O quarto era amplo e continha além de um banheiro, duas camas, duas escrivaninhas e ao lado de cada cama havia uma mesinha antiga com uma luminária. Também tinha um guarda roupa aéreo. E só.

Deitamos em nossas respectivas camas sempre conversando e o assunto girou em torno de nossas famílias. Contei a ela sobre como havia descoberto que Laura, minha filha adotiva, com dois aninhos era autista. Conversamos muito e minha colega também contou sobre a irmã dela que era suicida compulsiva e falou dos problemas que ela e a família enfrentavam.

Como deveríamos levantar cedo no dia seguinte e já era muito tarde desligamos as luminárias e decidimos dormir. Ela dormiu em seguida, mas eu não. Por mais que me esforçasse, não conseguia dormir. Virava de um lado para outro tentando adormecer e cada vez mais preocupada com o fato de ter que acordar cedo para assistir o curso.

O quarto estava na penumbra porque pelas persianas da janela entravam filetes de luz que misturados com as sombras decoravam a parede formando desenhos de linhas claras. De repente, quando mais uma vez troquei de lado na cama eu o vi! Estava parado no ar, acima da minha cama. Era um anjo loiro aparentando uns dois anos de idade e vestia uma túnica verde água até os pezinhos. Embora o quarto estivesse na penumbra, Ele estava iluminado, mas só Ele. Era lindo! Ele sorria para alguém que não era eu, pois olhava para o lado! Não conseguia tirar os olhos dele! Fiquei surpresa olhando aquela linda aparição, por longos minutos. Não sabia o que dizer. Só olhava calada. Ele tinha um ar feliz e risonho. Então só pra dizer algo falei bobamente: “Que lindo!”

Ele foi sumindo lentamente e desapareceu.

Fiquei sem acreditar naquilo. Pensei mil coisas, inclusive se talvez eu já fosse morrer, mas eu estava ótima, não estava sentindo absolutamente nada. Pensei também em chamar minha colega e contar. Desisti porque imaginei que ela não acreditaria.

Aliás, ninguém acreditaria.

É claro que não dormi. Somente quando amanheceu, cansada, adormeci por quase uma hora e meia. Fui acordada às sete horas por uma música suave que tocava nos corredores chamando o pessoal para o café.

Participei do curso com a imagem do anjo na memória. Pensava: Por que Ele estava ali? E pra quê?

Foram muitos anos para entender o que aquela presença representou. Na época eu me sentia absolutamente só e indefesa. Eu estava com minha filhinha recém diagnosticada autista sem cura. Para os outros filhos eu tinha sonhos e imaginava seus futuros e fazia planos. Para Laura, eu não sabia sequer o dia seguinte, não tinha a menor ideia do futuro. Eu estava sem chão!

Hoje sei que o anjo estava ali para que eu soubesse que não estaria só com minha filha e que estaria ao nosso lado para que pudéssemos contar sempre com sua ajuda e proteção. E sei que tenho esta ajuda das mais variadas formas! Sempre!