Furtei meu próprio carro

Prólogo:

Eis a manchete: “Motorista furta próprio carro no depósito do Detran em Dois Irmãos...”.

Dois Irmãos – Na tarde desta segunda-feira, um caso atípico aconteceu no Centro da cidade, pois um motorista furtou o próprio carro do depósito do Detran. Segundo a Brigada Militar, por volta das 14 horas, dois soldados abordaram na Av. 25 de Julho, próximo ao Corpo de Bombeiros, o Citröen Xsara Picasso, placa DHX-8937, de Dois Irmãos.

Ao conferir a documentação, foi constatado que o veículo estava com o licenciamento vencido e por este motivo o carro acabou sendo recolhido ao depósito do Detran. Instante mais tarde, o motorista do veículo disse que queria pegar alguns documentos e acabou fugindo com o veículo. Ele foi interceptado na BR-116 e encaminhado à Polícia Civil. (GV) – (http://www2.odiario.net/noticia/reader/noticia/31450).

Depois desse intróito posso iniciar meu texto que desejo considerar um conto cotidiano:

Num domingo causticante, terrivelmente abafado, dia 21 de novembro de 2010, furtei meu próprio carro! Você não acredita? No intróito deste texto eu explico que isso é possível. Por que fiz isso?

Ora, eu estava à-toa (sem proveito, sem nada fazer) e resolvi brincar para me divertir um pouco e esquecer as vicissitudes da vida material que ora vivencio. Perguntei a tia Fátima se não precisava de alguma coisa da festejada e recém-inaugurada Feira da Prata. - Com um olhar plangente (com motivos sérios para esse olhar sofrido) ela me respondeu:

– Necessito de alface para os periquitos, maracujá pra mim e pepino pra você. Ah! Como você gosta de macaxeira com carne de sol talvez seja o caso de comprar pelo menos uns dois quilos de inhame ou macaxeira. Temos quase três quilos de carne de sol, mas não há nada para complementar um jantar decente.

Os amáveis leitores vão perguntar: - Por que ela disse: “... Pepino pra você?”. Ora, Uma pessoa bem alimentada será capaz de exercer suas atividades de forma mais satisfatória.

Segundo essa visão, a escolha dos alimentos é fundamental para o bom desempenho sexual. Deve-se dar preferência a uma dieta que contenha frutos do mar, rica em fósforo, sal e muitos microelementos necessários ao nosso corpo.

A vitamina E, chamada de vitamina da fertilidade, é encontrada no gérmen de trigo e nos alimentos elaborados com farinha integral. A carência dessa vitamina leva à esterilidade, à impotência e a outros problemas sexuais.

O álcool, quando usado moderadamente, elimina as inibições e aumenta o fluxo sanguíneo nos vasos periféricos, como os do pênis. Em doses maiores, porém, tem o efeito oposto, reduzindo a velocidade das reações nervosas e produzindo incapacidade sexual temporária, isto é, o alcoolizado normalmente poderá broxar e ser alvo de chacota entre as amigas da amante, namorada, noiva, ou esposa amada indiscreta. Além disso há que se considerar a idade. Sim isso mesmo, o tempo não perdoa.

Mas não é só através de comidas e bebidas que somos sexualmente estimulados. Entre os humanos, a atração começa pela visão e pelo olfato, que exercem um papel muito importante na arte do amor. Na entrada das narinas, por exemplo, tem um sensor que percebe os feromônios exalados pela pele, despertando o desejo sexual.

O odor dos genitais e das axilas, por sua vez, viaja diretamente para o cérebro, fornecendo ao parceiro todas as mensagens de interesse amoroso. É por essa razão que é fundamental a sequência: cheirar, beijar, lamber e chupar algo que seja de interesse mútuo.

Os ingredientes afrodisíacos, entretanto, não têm capacidade de curar impotência ou frigidez, sendo destinados apenas a pessoas que querem prolongar o prazer sexual. A ajuda de um especialista, nestes casos, é ainda a melhor solução.

Pensarão os diletos leitores: “Sim. Tudo bem, mas o que isso tem a ver com o fato de a tia Fátima entender que você precisa de pepino?”

– Explico: O pepino é considerado por alguns como estimulante, para outros, exatamente o contrário. Em verdade não sei, exatamente, a intenção da mãe dos meus amados filhos quando disse que eu necessito de pepino e por isso deixo para os respeitáveis leitores a mais real, menos sofrida, leal e fiel interpretação do que não tenho competência para analisar ou compreender. Afinal, quem poderá provar que entende uma mente feminina?

Divagações a parte fui à Feira da Prata – situada no Bairro nobre de mesmo nome – em Campina Grande - PB.

06h32min: Estacionei a minha lata velha (Honda New Civic LXL) na Rua Don Pedro II, Bairro da Prata e pelo retrovisor analisei a área para ver se havia algum suspeito à espreita. Precavido ou medroso? Sou os dois.

Antes de sair do carro liguei o ar-condicionado e nesse conforto fiquei por aproximadamente seis minutos ouvindo o CD de Roberto Carlos com os melhores sucessos do considerado rei do ie-ie-iê. (De forma inapropriada no CD consta os maiores (SIC) sucessos) desse cidadão que curti muito em minha adolescência sem medo.

06h39min: Resolvi sair do carro e comprar as encomendas da tia Fátima. Ao sair do automóvel um embriagado e maltrapilho pedinte se aproximou e disse: “Posso ficar olhando o carro doutor...?”. – “Claro! Você não pagará nada por isso!” – Respondi incontinênti ao desafortunado que se coçava de forma sofrida e rápida, na virilha, sob a calça sovada.

O olhar bovino do maltrapilho só não me comoveu porque o hálito que aspergia de sua boca desdentada foi mais forte do que o bafo de uma hiena.

Outro veículo estacionou nas proximidades e o mendigo correu até o motorista sem me dar a menor atenção. Chamei-o e disse para ficar por perto, atento ao meu carro, que quando eu voltasse lhe gratificaria regiamente.

– Pode deixar doutor. Vou ficar olhando o seu carro e ninguém me tira daqui. – Creio que ele quis dizer, referindo-se ao carro: “Ninguém tira ele daqui...”.

Pensei que deveria pregar uma peça, sem querer humilhar ou desmoralizar aquele vigilante de meia-tigela, no sentido de aperfeiçoar a arte da mendicância que ele tão atabalhoadamente exercia.

Desloquei-me em direção à feira e quando me encontrava a uma distância de uns duzentos metros vi o suposto vigilante correndo, célere, em direção a outro motorista e futuro doador de algum trocado.

Para um melhor resultado de meu intento ou maquinação era preciso que o recém-chegado motorista estacionasse o veículo a pelo menos uns cento e cinquenta metros do meu. De repente, como eu desejei isso aconteceu!

Em desabalada carreira voltei para o meu carro e sai o mais rápido que pude. Sai da rua D. Pedro II, entrei na primeira esquina e estacionei na Rua Idelfôncio Aires, antes da Avenida Rio Branco.

Segui para a feira. Com um riso sardônico fiz as compras e retornei para o local onde estacionara na chegada à feira, às 06h32min. Fiquei parado no local onde antes havia o meu carro que eu mesmo o retirara e NÃO ENCONTREI o andrajoso vigilante. Vi-o ao longe.

Solicitei a uma criança que se encontrava por ali que fosse chamá-lo. Quando ele chegou perguntei de chofre:

– Onde está o meu carro? Quem levou meu carro? Você viu? – Cofiando a barba rala o mendigo disse com um riso meio bobo, talvez cínico, - “... Pois é doutor estava aqui agorinha...” – Começou a ficar pálido e gaguejando continuou:

– Sai um minuto só... Acho que estou precisando ir ao mictório.

– E o meu carro? Como é que fica? – Perguntei olhando com cara de mau para o miserável “flanelinha” chantagista que vive de extorquir dinheiro flagrado em um delito grave forjado.

Mal terminara minha pergunta o mendigo empreendeu uma desabalada carreira atropelando com seu corpo esquálido um não menos escanifrado colega de desafortunada ocupação irregular naquela área.

Acredito que até a presente data esse “flanelinha” que, igual aos demais energúmenos da mesma laia, que entendem ser donos dos espaços públicos, esteja com receio de fazer ponto na Feira da Prata pelo inusitado do ocorrido.

CONCLUSÃO

Para encerrar este breve discurso em forma de conto casual, ou mesmo incomum, considerarei como conclusão de meu escrito insólito o texto do senhor Carlos Zamith Júnior que escreveu e publicou em seu conceituado “Blog” – DIÁRIO DE UM JUIZ –, com muita propriedade e apoio de quem possui carro e tem o mínimo de bom senso:

A PRAGA DOS FLANELINHAS

Leio no Espaço Vital que durante o jogo de futebol Grêmio X Sport Recife, realizado na última quarta-feira, foram lavrados diversos termos circunstanciados contra “flanelinhas”, que não respeitaram ordens para deixarem de importunar e constranger quem tentava estacionar nas imediações do estádio.

Constituem uma praga, esses flanelinhas. Mas já se vislumbram, aqui e ali, movimentos para acabar com essa hipocrisia de “cobrar para reparar o veículo”.

Na verdade, é extorsão pura e simples.

Recentemente um juiz de Porto Velho, Daniel Ribeiro Lagos, condenou um desses flanelinhas por ter constrangido e agredido o dono de um carro, exigindo que ele pagasse R$ 10 por ter vigiado o veículo.

O juiz Daniel Ribeiro Lagos aproveitou a decisão para chamar atenção das autoridades sobre os flanelinhas:

“está passada a hora das autoridades assumirem uma postura desprovida de hipocrisia em relação à atuação nefasta dos chamados ‘flanelinhas’ que, a pretexto de trabalho, exigem dos motoristas pagamento por serviços de vigilância para estacionar em via pública, arvorando-se ‘donos’ do espaço público, quando se sabe que o que se cobra não é vigilância, mas pagamento para não ter o bem danificado”. (Postado por: Carlos Zamith Junior em Cotidiano, Direito).