Impacto profundo

Esta é uma história verídica, de um grande amigo meu, cujo nome era Jonas, mas, que a quinze anos atrás era mais conhecido como “O cara do esbarrão”. Ele ganhou este apelido devido a sua maior e melhor técnica para se aproximar de garotas que considerava atraentes, ele escondia-se em um canto invisível de uma esquina onde a mulher desejada passaria. Ele carregava pesados livros, sobre assuntos diversos, de física a poesia, na esperança de que algum deles comovesse as emoções da menina e mostrasse como ele era uma pessoa interessante.

Na prática era simples, quando a menina estava chegando perto de virar a esquina, ele pulava sobre ela simulando uma bela trombada, derrubava os livros, pedia mil desculpas, recebia ajuda para juntar os livros, conversava um pouco e pronto, marcava um encontro menos acidental para o dia seguinte.

Os livros normalmente eram o pretexto para o início da conversa, a menina pegava o livro no chão e dizia, “Nossa, eu adoro esse poeta!” ou então “Finalmente conheci um cara que não tem medo física nuclear”, então ele usava todo o seu charme para falar de um livro que não havia lido. A parte boa e benéfica da técnica, é que após o a menina escolher um livro, ele se obrigava a ler, para ter o que conversar nos dias seguintes. A cada livro que lia, mais interessantes tornavam-se suas conversas sobre qualquer tema. Alguns anos depois, ele começou a injetar em sua pilha de “livros para impressionar o sexo oposto” alguns volumes que ele mesmo desejava ler. Ocorria, infelizmente, que ele apenas escolhia a garota, a garota é quem escolhia o livro e, o livro que ele queria ler nem sempre era selecionado.

Um dia, olhou ao longo da rua, e viu a mulher de seus sonhos, que a tantos dias observava e esperava a oportunidade de encontrá-la em uma esquina. Normalmente, ele esbarrava apenas por esporte, nunca prolongou uma relação por mais de dois ou três meses, desta vez era diferente, ele estava mesmo apaixonado desde que o rosto da moça esbarrou com seu olhar na faculdade. Havia selecionado livros especiais, testados e aprovados, todos que já havia lido e que renderam ótimos resultados. Naquele momento, mesmo com tamanha ansiedade, ele portava em seus braços a cantada perfeita, aqueles livros tinham o poder equivalente de uma bela flechada do cupido, entre eles, o único não lido, que nas suas fantasias mais loucas seria o escolhido.

Passos apressados; Passos aproximando-se; Prende a respiração; Levanta-se; Anda rápido, pronto para a última esbarrada de sua vida; Um impacto profundo; Livros caem ao chão; Olhando ao redor, vê a “Garota Escolhida” passando tranquila ao seu lado, olha para frente e percebe, que pela primeira vez em anos de esbarrada, esbarrou na garota errada.

Sempre fingiu nervosismo e culpa após suas trombadas, desta vez porem, foi sincero, estava realmente nervoso e sentia-se visivelmente culpado. A cada livro que a menina ajudava a recolher, o brilho em seus olhos deixava Jonas mais constrangido, era fato, cravada no coração daquela moça estava a flecha do cupido. Jonas estava tão nervoso, que não percebeu que o gelado em seu peito era apenas o sorvete que a menina levava, descobriu isto ao recolher o último livro, logo aquele que ele tanto desejava ler: O livro “UM de Richard Bach” A menina desculpou-se também, nunca foi sua intenção destruir qualquer tipo de literatura, ainda mais de seu autor transcendental preferido. Jonas concluiu naquele momento, que o mínimo que poderia fazer era passar algum tempo com ela, abandoná-la carinhosamente e tentar novamente, com a garota escolhida do plano original.

Aparentemente os planos de meu amigo não deram certo naquele dia, se ele consultasse seu horoscopo diário, saberia que deveria evitar traçar planos para o futuro quando o sol se encontra alinhado com escorpião. As conversas com a menina errada foram as mais inebriantes, os momentos que antes eram simulados, foram os mais reais. Os dias previstos tornaram-se meses, a paixão converteu-se em amor. Fui convidado para o casamento, e em um momento de bebedeira propus um brinde à esta nossa vida tão engraçada, onde o “Cara do Esbarrão” se casa com a “Garota Errada”.

Hoje, quinze anos depois, me pergunto o que teria acontecido com a “Garota Escolhida”, se ela sequer imagina a esbarrada perdeu, ou se supõe que seja uma fantasma assombrando histórias de um grande amor. Imagino que livro ela teria escolhido para meu amigo, e enfim concluo, que não poderia haver uma garota mais certa para despertar seu sorriso, do que a escolhida magicamente pelo destino. Ouvi dizer que dias atrás, o sol entrou novamente em escorpião, agora eles aguardam com ansiedade o primeiro filho, que prova que nestes dias não se deve tentar fazer escolhas, entre tantas camisinhas, escolheu logo a que estava furada...

=NuNuNO==

( Que perde o romantismo, mas, não perde a piada )

PS: Jonas, acertei, não acertei? Huahuahuahuahuahuahua.

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 07/01/2011
Reeditado em 07/01/2011
Código do texto: T2714976
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