CAIXA DE MADEIRA

A esposa concentrava, em seu coração, uma raiva incontida. É que o marido, quando recebia o dinheiro da empresa, no fim do mês, não o depositava no banco, nem o colocava no cofre da casa, mas sim dentro de uma caixa de madeira, ainda por cima, fechada e com a chave escondida.

-Mauro – pede Lavínia – hoje quero dinheiro para comprar um ferro de engomar...

- Mas...mas Lavínia, hoje não tenho dinheiro, se conseguir algum, eu mesmo compro!

- Ah, bandido! Pensava a moça. Se entrar um gatuno aqui e carregar essa caixa, eu simplesmente não faço nada, deixo que carregue!

Onde Mauro escondia a caixinha era, realmente, um mistério. Ela própria procurara por todos os cantos da casa e nos bolsos dele. E nada!

- Ora, ora! Ela pensa. Trabalhar dentro e fora de casa, eu não vou! Se quiser que eu trabalhe fora para conseguir dinheiro, eu trabalho. Em compensação, ele faça o serviço doméstico! Só quero ver, com a preguiça que tem!

A moça só vivia mal humorada. Provavelmente, por fazer tudo em casa, e o dinheiro mínimo para as despesas.

- Um dia - fala resmungando – ele vai chegar em casa e não vai achar nada para comer e, se quiser, vá comprar em alguma cantina. Por que fui me casar com esse morto de fome?

E todo dia, quando o rapaz chegava em casa, a reclamação era a mesma. Mauro parecia não ouvir. A mãe dele, às vezes, interferia:

- Meu filho, essa moça vai acabar indo embora!

O rapaz ouvia tudo e mantinha-se calado. Até parecia querer de fato que a esposa fosse embora.

-Meu filho, quando você quiser, leve a sua esposa para jantar lá em casa. Não sou tão pobretona, ou morta de fome, que não possa oferecer um jantar ao filho e à nora...

- Não se preocupe mamãe, a Lavínia é assim mesmo: gosta de falar, mas aqui em casa, não falta nada.

O tempo ia passando, e tudo girando em torno da mesma história. Muitos do local já apontavam Mauro como o homem mais “pão duro” do bairro:

- Eu hem! Manifestava-se uma das vizinhas de Lavínia. Antes ficar moça velha, encalhada, do que casar com um “mão de vaca” desses!

Um dia, aconteceu um temporal na cidade. Parecia um dilúvio. As ruas ficaram alagadas, verdadeiros rios, a água entrando nas casas, inclusive, na de Mauro. Invadiu a casa toda. Houve um momento em que a moça viu a caixa de madeira flutuando sobre as águas, mas saiu e foi se abrigar numa igreja que ficava na região mais alta, acabou esquecendo a tal caixa.

Quando Mauro chegou e viu o estado da sua casa, pensou logo na preciosa caixa, mas não a encontrou e pensou em Lavínia:

-Na certa, ela guardou.

Quando a água baixou mais, ela voltou para limpar a casa e pôr os objetos nos devidos lugares. Foi quando encontrou o marido aos gritos:

- A minha caixa? A minha caixa?

- Ora Mauro, sei lá de caixa! Tive tempo de pensar nisso? Foi quando chegou uma criança com a caixa na mão:

- Meu pai mandou entregar. Vinha saindo daí, e ele guardou.

Os dois se entreolharam e agradeceram à criança. Lavínia, no seu íntimo, preferia que a caixa tivesse sido levada na enxurrada! Agora, iria recomeçar o seu inferno!

FORT-CE

ELIANE ARRUDA
Enviado por ELIANE ARRUDA em 09/01/2011
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