Sangue e Glória

“Para minha amada esposa.” – escreveu em uma pequena folha de papel, após, pensou um pouco, lembrou um pouco, amassou o papel e jogou-o junto aos outros no cesto de lixo.

“Queridos filhos...” – mais lembranças... Os lindos cabelos de João Paulo, os olhos de Marcia. Papel amassado e rapidamente jogado com os outros.

O cesto encheu com enorme rapidez, tantos inícios imperfeitos para aquela carta. A carta deveria ser perfeita, ou todo o esforço teria sido em vão.

O telefone toca, o desejo é o de não atender, mas, o telefone continua tocando, atende:

---- Alo. – Diz completamente insatisfeito com sua atitude mediante a campainha.

---- Boa tarde, meu nome é Robson da Mastercard, eu gostaria de confirmar sua últimas transações.

---- Doações?

---- Sim... Cem mil reais para a Santa Casa?

---- Exato, e tem mais um pouquinho para a pesquisa do câncer.

---- Exato senhor, Duzentos mil reais.

---- Sim, eu efetuei as doações. Sinto-me bem com isto.

---- Eu poderia apenas confirmar o seu CPF?

---- Claro!

CPF confirmado, ligação encerrada. Pensou que levaria anos para pagar aquelas doações, ainda mais depois de esvaziar as contas bancárias para fazer grandes doações para hospitais, orfanatos e enciclopédias livres. Sorriu.

“Gastei todo o dinheiro que acumulei nestes últimos 5 anos no Japão porque...” – Amassou, desamassou, rasgou, amassou novamente e jogou no mesmo lixo.

Tudo estava feito, casa hipotecada para fazer doações; Conta esvaziada para fazer caridade; credito esgotado até o último centavo com filantropia; Escola dos filhos paga até a faculdade; Cartão de crédito da esposa cancelado.

Olha para a corda, pergunta-se se não é muito fina; Pergunta-se se não é muito grossa; O nó está bem feito?

“A minha esposa, que enquanto estive no Japão, trabalhando onze horas por dia incansavelmente, juntando dinheiro para que nada lhe faltasse. E ao rapaz que ainda não sei o nome, que encarregou-se de ajudar a gastar o dinheiro, fruto de meu trabalho. Gostaria de dizer” – Rasga, amassa, joga no cesto, erra. Deixa no chão.

Escreve mais uma vez; Será definitiva.

Ajeita a gravata, sobe na cadeira, ajeita a corda em seu pescoço, aperta o nó. Pensa na esposa, pensa no rapaz com quem a esposa está neste exato momento; Sorri. Pensa nos filhos, uma lágrima lhe escorre. Pensa nos olhos de Marcia, nos olhos do rapaz, sorri. Pensa nos cabelos de João Paulo, nos cabelos do rapaz, sorri. Pensa em si próprio, derruba a cadeira.

Asfixiado, arrepende-se profundamente de ter derrubado a cadeira; Pensa nas dívidas que deixou; Sorriria se pudesse.

No dia seguinte, a esposa voltando da casa de seu amante, encontra o marido enforcado com um simples bilhete no bolso:

“Viva da gloria de quem escolheu.”

=NuNuNO==

( Que já tem a corda, o banco, e tudo mais... Mas ainda não encontrou um bom motivo )

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 13/01/2011
Código do texto: T2726691
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