O Porco

A ninhada tinha sido grande. Todos da família de seu Anselmo ficaram contentes e logo fizeram cálculo de quanto poderiam lucrar quando os animais tivessem em ponto de abate.

No meio de tantos porquinhos, não havia nenhum que se destacasse. Todos eram fofinhos, bonitinhos, gordinhos... E a mamãe porca zelosa mostrava que seria uma mãe de primeira. Nada tinham que temer.

Os dias foram passando, e seu Anselmo batalhando para cuidar da criação: gados, porcos, bodes, galinhas. Na época de aprontar o roçado, deixava essas tarefas para a mulher, e partia logo cedo, juntando-se aos vizinhos; seguindo para enfrentar um longo e estafante dia na preparação da terra, semeando, pra depois esperar o tempo bom; assim poderia obter o fruto do suor do seu rosto. Se a safra fosse boa, chegava a tirar quinze sacas de feijão e até vinte de milho. Vendia a metade, pagava os débitos, pra depois, comer durante todo o ano do feijão-pão de cada dia. O milho servia pra várias coisas: fazia fubá, pamonha, canjica (se o milho tivesse verde; fazia farelo e xerém pros animais ( se o milho tivesse pra lá de maduro). Até as palhas do milho, juntando com as folhas de palmas, com as vagens da algaroba e o capim elefante, davam uma ração de primeira. Os bichos engordavam, davam crias fortes, leite em abundância, e a família ia vivendo sem muita preocupação. Tendo saúde e terra pra plantar, não tinha do que se queixar, esse era o lema de seu Anselmo.

Daquela ninhada um porco começou a se destacar. Crescia a olhos vistos. Esse ia fazer toda vizinhança ter uma história pra contar. O porco foi crescendo, virando um monstrengo. Era, além de grande, um terrível ‘cão guardador. ’ Ninguém podia chegar ao terreiro que ele colocava pra correr. Disso sabe muito bem contar em detalhes e cicatrizes a agente de saúde, que quando se viu em apuros e não tendo como correr, subiu na primeira árvore que viu pela frente, e só desceu quando seu Anselmo chegou para tanger o porco.

Um dia seu Anselmo decidiu por vendê-lo. Dois homens troncudos e preparados vieram acompanhando o novo dono. Seu Anselmo embora com pena, sabia que não podia ficar adiando a partida do porco, e o bicho estava se tornando uma figura assassina; ele temia pela sua vida e a da sua família. Assim, tomou a melhor decisão de sua vida, pois o desfecho dessa história é terrível.

Os homens levaram o porco na base da corda e na vara, e o bicho ia guinchando e investindo contra todos. Num determinado momento, os homens perdendo a paciência começam a bater no bicho pensando com isso conseguir fazê-lo andar mais depressa. O que aconteceu, foi o inesperado. O bicho investiu contra o seu Torquato e começou a rasgar-lhe a barriga; quanto mais os homens batiam mais o porco se tornava indomável. Seu Torquato saiu vivo por milagre. Os homens correram desembestados e a fera só chegou ao matadouro, depois de morta.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 03/02/2011
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