Que loucura é essa?

- Há um enigma no bilhete, cara! Um enigma! O Treta não era um maluco, era um poeta! Temos que falar com a mãe dele urgente! Temos que encontrar as paradas dele!

- O que está falando, véio!? São 2 da manhã, cara, por que... Por que está com esse bilhete a essa hora? O que é ..

- O Treta, cara, eu sabia! Eu sabia que havia algo errado! Me escute, espere, escute isso! Eu venho aqui no Bar do Will todas às terças com esse bilhete e eu e o Will ficamos a lembrar das noites que passávamos aqui falando pelos cotovelos e nunca chegamos a uma solução para o caso do Treta, cara, nós nunca aceitamos o que ele disse neste bilhete. E agora eu descobri! A culpa é nossa, véio, nossa!

- Ei, cara, você está chorando!? Que história é essa de culpa nossa? Que porra é essa de Poeta!? O Treta se matou, e se matou porque ele era maluco! E se era poeta, isso só prova que era maluco mesmo! Eu não quero saber de bilhete, muito menos de poesia! Não tenho culpa de nada, eu era amigo dele! Amigo, ouviu!? Vai pra casa e me deixa em paz, antes que fique maluco também.

- Carlos, espere, cara, por favor!

- O que você quer, bicho? Pelo o amor de Deus, o que você quer que eu faça!? Isso faz quase 10 anos, porra!

- Primeiro: você lembra o que diz o bilhete?

- Claro, porra, claro que me lembro. E por isso eu nunca me esqueço de que ele era mesmo um maluco, entendeu? MALUCO! Vou desligar.

- Espere, cara, me diga o que você lembra do bilhete. É sério, eu não estou bêbado! Lhe dou minha palavra, pô, diga aí o que lembra e vou explicar tudo!

"Ai(s). É o pedaço de mim que fica.

Se for pra rimar, rimo com pica.

Porque escrever, complica."

Rua 6. Casa 64.

Onde ninguém nunca me visitou."

- Entendeu, cara. Maluco! Não vou ficar ouvindo você, está ficando maluco como ele! Valeu, brother. Se cuida!

- Viaja, cara, viaja só! "Rua 6. Casa 64. Onde ninguém nunca me visitou". As seis primeiras letras, de trás pra frente, quer dizer POESIA! E das letras 56 a 64 está a palavra ESCREVER! ESCREVER POESIA. Onde ninguém nunca me visitou! É isso, porra! Ele escrevia poesia! Só agora eu percebo que ele dava alguns sinais, ele deixava algo no ar, com aquelas frases que sempre nos pareceram sem sentido! Nós nunca conversávamos sem encher a cara, sempre falávamos de mulheres e drogas e futebol e ele nunca sabia nada de nada! Fomos os amigos errados, cara. Os "grandes" amigos filhos da puta! Mas éramos os amigos que ele tinha e ele não queria outros, não aceitaria outros! Por isso tudo isso aconteceu com ele... Nós tínhamos que ter percebido!

As rimas, o final "Porque escrever, complica", tudo isso deixa claro, mas nem no seu texto de morte nós prestamos atenção! Só depois de dez anos é que fomos perceber iss...

- Tu-tu-tu-tu-tu-tu-...

- Carlos!? Acredita, Will!? O filho de uma puta desligou! Will!? Ei, Will!!?

- Desculpe, Betão, tenho que atender os clientes.

Guilherme Bastos L
Enviado por Guilherme Bastos L em 10/04/2011
Código do texto: T2899801
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.