O ÁLBUM DE MINHAS LEMBRANÇAS.

 

 

Minhas noites eram abundantes em pesadelos, pensamentos marcantes e vazias de sono. O que teria acontecido até aquele momento que não me deixou perceber a leviandade de um relacionamento que, desde o início, nada prometia, diante das constantes idas e vindas? Nada sabia de sua vida, apenas me joguei, de alma, naquela paixão.

 

Não sei quantas vezes folheei aquele álbum de fotografias - registro quase fiel de um amor que engana, mente e criva-me de perguntas não respondidas? Qual a minha parcela de culpa nessa teia mal resolvida na qual me deixei levar por tantos anos?

 

No chão frio do quarto, o álbum, ao meu lado direito, permanecia mudo às minhas indagações; na boca, o sabor do vinho que descia como espinhos atravessados, arranhando-me a garganta. Perdi-me entre as paredes daquele quarto inóspito e vazio.

 

Não havia mais lágrimas em meu rosto que redundava no choro compulsivo e inconformado dos últimos dias. O que restava agora era apenas aquele vácuo em minhas entranhas, a sensação de desconforto, diante do que poderia ter sido – e não foi!

 

Do meu lado esquerdo, a matéria de capa do jornal, trazendo a notícia do casamento do ano, em letras garrafais. Que ele era um homem importante, na sociedade paulistana, eu já sabia. O que não poderia prever era que tudo acontecesse de forma tão cruel.

 

Com passos conscientes, no rosto a expressão de quem fechou uma porta para sempre, no frio daquela noite incerta, aproximei-me da lareira que tentava aquecer meu coração (mas ele permanecia frio como gelo) e atirei nas chamas o álbum de fotografias. Tornei a encher minha taça daquele vinho tinto, que descia como o sangue vermelho e quente, pulsando em minhas veias, e assisti à incineração de meu passado.

 

 

Este texto faz parte do EC
"Álbum de fotografias"
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