Notas Breves de um Escrevinhador Compulsivo.

-Que fome, rapaz!

-Nem me diga. Ontem era quinta feira e a patroa foi jogar Texas Hold’Em com as amigas e eu fui para o futebol e só comi um pão com bolinho de carne e olha lá. Ainda bem que hoje sou eu quem prepara o jantar de família.

-Onde vamos almoçar?

-Sei lá, eu poderia comer um cavalo!

-Então coma um daqueles malditos em que eu apostei...

-Você aposta?

-Nos cavalinhos. Na Megasena. Na Loteca. No Bicho.

-Ganha?

- Gosto de pensar que sim.

-Onde vamos comer? Tá com grana?

-Um pouco. Ganhei umas quireras ontem no Veado.

-Que tal alguma coisa oriental? Chinês.

-Chop Suye à R$ 5,50?

- É, vai sonhando...De repente dá Burro na cabeça....

*

-Porque você bebe tanto assim? Eu não chego prá você?!

-Uma coisa nada tem a ver com a outra...

-Quando está trabalhando ainda se segura um pouco. Mas, quando levanta um bom dinheiro e fica de papo pro ar tom até água de bateria, porra!

-Não pago as contas? Deixo faltar comida em casa? Cê tem até conexão de internet para ficar de conversa fiada com as tuas amiguinhas? Amiguinhas, amiguinhos, seja lá que bosta for...

-O que você está insinuando? O que você quis dizer com isso?

-Ainda não sei. Estou decidindo.

-Olha se você está pensando quê...

-Não estou pensando em nada nesse exato momento. Você poderia me dar alguma ideia para escrever, mas, só fica aí criticando porque virei uns poucos tragos de gin antes do almoço e teorizando sobre lança que você nem sabe o que é. Deve ser uma tendência feminina mundial. Ficar procurando chifres em cabeça de cavalo. Quando tudo está bem e eu LEVANTO uma grana você fica implicando com a minha bebida. Você não consegue entender que eu TENHO que ser desse jeito para poder escrever? Mas, será a cobra, porra! Dois anos juntos comendo o pão que capeta amassou com a bunda e agora que consigo ficar uns dias numa boa você vem fazendo onda? Que parada! Vamos relaxar e planejar uns tragos em Floripa ao invés de perdermos tempo com lero. Até teu batom e as tuas calcinhas estão no meu nome, que merda.

-Vai ser uma longa tarde...

-Pode acreditar que sim!

*

Escreveu não leu é analfabeto. Já dizia meu finado e saudoso paizinho.

Não é que baianinho era valente? Um começo de noite eu estava tomando uma cerveja e comendo uma sustância no “Bilharito do Alaor quando adentra o tipo e vai direto para cima de um negrão que parecia escravo etíope de rancho de carnaval! E começa a lhe dizer os piores impropérios:

-Aí, ô nego filha da puta! Qual é a tua de bulir com a Cida?

-Ô cidadão. Primeiro que negão é teu passado cortando cana lá em Ilhéus e outra buli com tua mulher porque ela é uma sirigaita que fica dando mole prá todo maluco aqui na vila e outra no dia que eu tiver medo de homem visto saia, tá falado? E nós tamo planejando ir morar juntos lá em Irajá. Tá me escutando, corno?

Quando o crioulo virou as costas – todo pimpão - para pedir outra gelada tombou com três tirambaços no costado que caiu duro no mesmo instante. Aí o Baianinho foi lavar sua honra com a Dona Maria Faltosa e ganhou o direito a retrato escrachado na primeira página da Tribuna no dia seguinte...

*

Andava de olho comprido naquela gata esculpida por deus e talhada pelo demônio. Um metro e oitenta de tentação. Curvilínea e sinuosa como serpente. O as maçãs do rosto protuberantes que combinavam perfeitamente com seu nariz longo e seus lábios finos que sorriam com poucos dentes. Vinte de dois anos ou coisa que valha. Estudante de Comunicação Social na Católica. Boa de conversa e de copo, mas tímida e reservada. Ou era charme? Sabe-se lá. Tinha as mãos longas e finas de pianista. Seus pezinhos delicados estavam sempre recheando lindamente as sandálias havaianas e ela se vestia livre, leve e solta. Realmente a gata era problema, só que aos 44 anos resolveu que seria finalmente feliz e largaria tudo por um grande amor, custe o que custasse. Carta da alta e arriscada como se pode ver. Começaram a sair às escondidas e esconderem nos bares discretos e nos restaurantes caros e nas salas de cinemas em horários vesperais e em motéis e hotéis de luxo. Dinheiro havia até o momento em que não ouve mais. A deliciosa gata desapareceu como que por encanto no momento em que vida boa foi racionada. Aos 45 anos teve que voltar para sua vidinha medíocre com o rabo entre as pernas, humilhado como uma cachorro sarnento, até pelas filhas que ele continuava bancando mesmo elas casadas com meros zeros à esquerda....

Geraldo Topera
Enviado por Geraldo Topera em 11/05/2011
Código do texto: T2963388
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