Tiana

Era tarde. Mas ela ainda esperava. Não que ele fizesse por merecer. Bem ao contrário disso. Mas ela não conseguia ir contra a bondade de seu coração. Desde quando soube o que é amor, amava sem exigir motivos. Era sua natureza. Ou a natureza divina. Ou ambas em um só tom.

Uma porta se abrindo. Corpo se esbarrando em coisas. Palavrões proferidos. Raiva lançada no ar. No ar de um lar. Um lar de uma família quase desfeita. O quase segurado pelas beiras da oração de um coração singular.

Essa era a situação. Seu nome é Tiana. Qual? Todas. Todas essas mulheres de uma vida assim, de dores, sofrimentos, lágrimas, renúncias, e sonhos.

Mais uma vez o marido chega bêbado. Xingando. Brigando. Magoando. Destruindo.

Tiana, naquele instante não compreendia o que ainda fazia ali. Por que ainda agüentava aquilo? E as lágrimas dela, pra ele eram fingimento. Frescura ou coisa assim.

E ela enxugava o pranto. Deixava que ele escorresse por dentro. Onde não tinha platéia de sua dor. Ia pra o quarto. Deitava-se lentamente. Não queria brigar. Bem sabia que os filhos, despertos pela circunstância, ouviam tudo. Bem sabia que já estavam magoados demais.

Adormeceu depois de um longo tempo. Sonhou. E no sonho era forte. Tinha coragem. Tinha alegria. E havia sorrisos nos rostos dos filhos. Que belos sorrisos eram. E que sentimento bom lhe vinha naquele momento. Despertou.

Ainda era madrugada. Pegou o necessário, acordou os filhos e partiu. E enquanto seguia rumo à estação rodoviária, de mala, filhos e cuia, repetia consigo mesma, como se reza fosse “há de ter um jeito deu ser como a Tiana do sonho, há de ter um jeito de ser feliz”. E nunca mais se ouviu falar dessa Tiana que a tudo calava. Continuou Tiana, mas já não era mais a mesma.

Jordana Sousa
Enviado por Jordana Sousa em 19/05/2011
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