Vestido Estampado.

Apenas acordou como era rotineiro, agradeceu a Deus por mais um dia, lentamente reviu a agenda mentalmente e foi cumprindo sua rota diária,pedindo aos céus para não entrar em nenhuma rota de colisão.

Não saiu do rascunho do que deveria ser uma grande vida,apenas (re)vivia seus rabiscos fragmentados de alma, seguindo sua sina.

Quanto tempo amargurava a alma que destemida,mas contida,queria fugir/gritar/sair de sua própria órbita, não havia como falar de maneira exata.

Sabia que precisava seguir, era o imperativo absoluto de quem conjuga o verbo viver em seu mais amplo significado, ainda que singularmente.

Se havia alguém no universo inteiro que naquela pequena fração de dia se sentia com o uma maré que enche/esvazia e apenas se deixa morrer derramada na areia, era ela.

Já não refletia o mesmo brilho das estrelas estampadas sobre as ondas/esparramadas no manto do infinito,talvez até por não ter mais certeza de que ainda havia algum pequeno traço de infinito dentro dela.

Abriu o guarda-roupas e para falar a mais pura verdade, nem se importou muito em escolher uma peça específica,apanhou displicente uma roupa qualquer. Não estava frio nem calor, não chovia nem ardia o sol.

Olhou rapidamente pela vidraça e viu a vida passando grisalha lá fora. Do tempo... já nem sabia mais ao certo.

Ensaiou uma dança imaginária sob os acordes silenciosos da alma dolorida, uma dança solitária como ela própria se sentia.

Nem ousaria atender o telefone, caso tocasse. Era um daqueles dias em que não estava para ninguém, nem para si mesma.

Era como se a alma em sua essência se misturasse com pirilampos e volitasse pelo sideral espaço,perdida entre estrelas, em plena via láctea.

Mas tinha que se recompor em si decomposta,se (re)fazer de tanto desfazimento,era como se naquele momento nascesse ao contrário era uma espécie de desfragmentação que acaba compondo o ser esfarelado pelas dores da vida. Um parto ao avesso.

Fechou o guarda-roupas , enfiou o vestido , meio que arrumou os cabelos, um leve batom e para arrematar, um sorriso ainda que amarelado e sem sentido, mas fazia parte da maquiagem diária.

Ouviu a porta se fechando atrás dela e apenas se deixou ir em frente, até onde...? Até onde os domínios da alma podem seguir em um dia como outro qualquer.

Ah, sim. O que chamava atenção sobre ela naquele dia era apenas e tão somente o vestido...

... Estampado com muitas flores e cores, as flores murchas e as cores desbotadas.

26/05/2011.

Márcia Barcelos.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 26/05/2011
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