Futebol: vida e morte

45min do segundo tempo. Zero a zero. Pênalti contra o seu time de coração. O estádio estava lotado, mas naquele instante até uma agulha caindo no chão seria ouvida. Se seu time levasse aquele gol, seria rebaixado à terceira divisão do campeonato nacional. Tragédia. O tempo parou. Sua vida passou inteira pelos seus olhos. Sua infância, seu pai lhe trazendo para o estádio, sua vida de estudante, sua militância política. Sim! Tinha uma consciência política como poucos. Era a prova viva de que futebol não é alienação. Até Chico Buarque adora futebol, repetia pra si mesmo.

O árbitro ia autorizar a cobrança. Lembrou-se dos tempos em que freqüentava a igreja católica. Estava meio afastado, mas sua fé permanecia intacta. Sua temência à Deus era exemplar. Era devoto de São Judas Tadeu, o santo das causas impossíveis. Sempre se sentia pouco a vontade quando misturava religião com futebol, afinal, será que Deus iria mesmo se ocupar com essas coisas? Ele tinha certeza que sim. Levantou as mãos aos céus, pediu a São Judas Tadeu, pediu à Nossa Senhora de Fátima, Pediu à Deus. Naquele exato instante, avistou um jogador do time adversário ajoelhado no gramado e com as mãos levantadas, também rezando aos céus para que seu companheiro marcasse o gol. E agora? Ele pensou. Ele está pedindo ao mesmo Deus que eu. Eu pedindo pra bola não entrar, e ele pedindo o contrário. Era chegada a hora da FÉ!

O jogador correu pra bola...

O goleiro defendeu.

Êxtase no estádio. Tudo era festa. Ele ajoelhou. A multidão pulava de alegria. Ele agradeceu. Abraçou-se com sua esposa que o fazia companhia em todos os jogos. Se beijaram, e foram pra casa. Mais um dia!

Marcelo Mosque
Enviado por Marcelo Mosque em 29/11/2006
Reeditado em 29/11/2006
Código do texto: T304601