Adeus

Tentou ser forte, implacável. Os olhos se negaram a voltar-se para o tempo passado. O corpo dizia "não", mas a alma queria gritar para o mundo, um único sim, definitivo e eterno. Na verdade, o que poderia ser eterno? O amor? A paixão?Ele queria ficar.

Os escritores sabem muito bem que tudo na vida é efêmero, passageiro. Ele sabia disso, de fato , ele nunca havia amado, almejado alguém. A primeira despedida é sempre fulminante, arrebatadora. ‘ Nunca entregue seu coração ’ dizia seu pai.

O apaixonado, quis ser racional. O sentimento é arquiteto de armadilhas. Qual o segredo para trancar a porta do coração?

Na verdade, procurou encontrar respostas nas estrelas, subia os montes mais altos da cidade, percorria escadas para poder chegar ao último andar dos prédios.Tudo era em vão, as palavras escritas nas cartas de amor, o telefonema em meio a lúgubre madrugada, o beijo recebido na silenciosa sala de estar.

O adeus óbvio, o agonizava na medida que suas roupas eram colocadas na mala surrada e sem zíper. A vida é tétrica, mesmo quando os sonhos se projetam fantásticos em nossa mente tão ínfima.

Olhou ao seu redor, o quarto, lugar secreto para as noites de promessas que nunca foram cumpridas. A cama coberta por lençóis frios, a chuva amaldiçoando as vidas, o que mais poderia acontecer? A resposta singela naturalmente saía de sua boca.. Nada.

Sentou –se à beira da cama, a mala ao lado entreaberta derramava suas peças de roupa.Deprimido abaixou os olhos e lembrou-se do tempo que , a felicidade se resumia em abraços , beijos, sexo. Um novo horizonte se projetava na imaginação , um filme extraordinário protagonizado por dois seres que tentavam se completar.

O adeus é completo.O que ele tinha em suas mãos, seria roubado pela vida. A vida não é círculo perfeito, ela tem o seu fim muito bem elaborado

Filosofias à parte, o tempo estava se espatifando no ar. A penumbra escondia o seu rosto, suas emoções alojadas na gaveta das suas recordações mais sinceras.

Por que pensar nos bons momentos? Ele sabe, que o passado é preso no seu próprio tempo. Recordar é ferir, apunhalar cada vez mais o que chamamos de sentimento. Balançou a cabeça, como se não entendesse, ou melhor, não queria aceitar o fim.

O fim de tudo. O fim do amor. O fim da paixão. O fim da felicidade.

A mala em suas mãos suadas, o olhar fixo na janela que também chorava. Queremos sempre vencer, quando a vitória não é a nossa melhor amiga. A porta estava ali, pronta para ser aberta, o quarto ficaria vazio, sem vida. Os móveis não faziam sentido, não tinham utilidade, o benefício do amor é a solidão.

Pensou em tudo, menos em si, o melhor era esquecer o que jamais seria esquecido.Fatos marcantes são cicatrizes em nossa cabeça. Em passos curtos seguiu. A mão na maçaneta, a porta lhe apresentava o corredor vazio. Nenhum bilhete escrito, nenhum recado enamorado.

Não! As palavras muitas vezes nos fazem sofrer, mas ele tem a convicção, o silêncio de uma pessoa assassina qualquer esperança.

Ele fechou a porta, seguiu seu caminho, sua sombra refletida nas paredes, formou a sua última permanência naquele prédio, que conheceu a outra face do amor. O amor não eterno.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 03/12/2006
Código do texto: T308716
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