Uma noite de baile

- Para de frescura e vem logo pra cá menina. - Ordenou a mãe em um misto de impaciência com curiosidade e entusiasmo.

A filha saiu do banheiro a passos miúdos. Seus longos cabelos castanhos estavam presos por uma faixa lilás mas ainda voavam soltos a cada passo. Sua pele branca ardia em um rubor tímido e seus olhos miravam o chão.

Quando levantou o rosto e recebeu o olhar maravilhado de sua progenitora cobriu o rosto com as mãos e soltou um gemido de alguém que irá cair em prantos.

- Deixa disso querida! Você está linda. - A mão abraçou a filha e a conduziu até um banco defronte a um espelho.

Aquela frase não era irreal. O longo vestido lilás passava a poucos centímetros do chão graças à sandália de salto alto, o corpete preto apertava e ressaltava os seios e uma faixa apertava a barriga se fechando em um luxuoso e discreto laço nas costas. Mesmo faltando a maquiagem e os últimos toques no cabelo, a jovem (acostumada a andar de jeans e camiseta) já possuía um brilho majestoso e encantador.

Sua aflição aumentava a cada passo do relógio, seu estômago não a deixava em paz há muito tempo e o sorriso bobo de sua mãe piorava tudo. Devia estar ridícula naquele vestido, mas gostava, o que a deixava mais nervosa. Era um sinal que gostava de ser ridícula.

Base, rímel, sombreador, delineador, batom e o quadro ia ficando cada vez mais belo. O espelho parecia emoldurar uma pintura que ia sendo trabalhada naquele momento por um grande artista. Queria que suas amigas estivessem ali com ela, seria muito legal acompanhar essa mudança em todas elas, mas percebeu que seria mais divertido ainda ver as caras surpresas quando ela entrar pelas portas do salão.

- Não mãe, por favor! Deixe meus cabelos soltos! - Gesticulou em súplica. Estava muito bonita, mas não podia se dar ao luxo de sair exibindo as orelhas, eram muito feias.

Depois de uma pequena discussão a mãe a convenceu a, pelo menos, ajeitá-lo em um penteado mais elaborado. A expectativa fez com que parecesse uma eternidade, mas o resultado foi glorioso.

A maquiagem mais clara trazia luz que, abraçada pela cor cabelo, ressaltava a beleza de seu rosto fino e arredondado. Seus belos olhos destacavam-se ao conjunto harmonioso com um brilho jovial, assim como o discreto sorriso que chegara à sua face e ficara.

O pequeno desconforto, o medo e o embrulho no estômago voltaram quando a mãe bateu as mãos e anunciara que havia terminado. Era hora de descer as escadas e ser envergonhada por seu pai que, com certeza, estaria com a máquina fotográfica e falaria algo besta. Mas o pior seria ter de aturar a peste do irmão mais novo que caçoaria, mesmo ela estando fabulosa.

No trajeto, percebeu que as escadas da casa eram maiores do que ela imaginava, parecia que nunca terminavam. Milhares de coisas passaram por sua cabeça. Desistir foi um a palavra mais recorrente, junto com as milhões de desculpas esfarrapas. Algumas até eram boas, mas estava tão nervosa que nem reparou.

Ao chegar na sala o silêncio que se fez foi pior do que qualquer besteira ou brincadeira. Precisava ouvir uma opinião sincera e, mais do que isso, precisava ouvir que estava linda.

Foi exatamente o que ouviu, mas só a fez corar como nunca, aumentar sua aflição e só conseguir ficar parada porque suas pernas não respondiam (seu desejo era correr como nunca, para onde, não sabia).

A causa não foi o elogio, mas a voz que o fez. Seu companheiro para aquela noite estava sentado em uma poltrona próxima ao pai, jogando videogame com o irmão caçula.

O jovem levantou, abotôo o smoking, ajeitou a gravata borboleta e se aproximou para receber a moça. A maestria do movimento o deixou ainda mais elegante e belo, como se não bastasse os olhos claros, os cabelos loiros e o corpo esbelto.

Com certeza aquela seria uma noite espetacular.