MULHER INVISÍVEL

No início pensei que fosse chatice de minha parte, ou aquela falta de paciência que acomete aos que têm uma vida corrida, sem muito tempo a perder em filas de banco ou em atendimento demorado nas lojas. Longe de ser uma compradora compulsiva, semana passada precisei comprar novas peças para meu guarda-roupa e antes da compra resolvi fazer uma pesquisa de preço e conhecer de perto as novidades da moda.

Entre uma loja e outra, muitos modelos de encher os olhos. Logo sou atraída por uma vitrine maravilhosa, muito bem decorada. Resolvo entrar na loja, olho um vestido aqui, uma sandália ali, uma bolsa que combina com a sandália... e nada de vir um vendedor me atender. Continuo olhando as peças, na vã esperança que alguém apareça com um sorriso simpático, oferecendo ajuda. Nada. Fico ali com aquela cara de criança com o dinheirinho na mão, esperando o homem do carrinho de pipoca. Começo então a me auto-analisar. Bem que eu poderia ter me arrumado melhor hoje, afinal, não há nada que atraia tanto um vendedor do que uma mulher elegante, bem arrumada, entrando loja adentro. Antes de me condenar por completo e me sentir a própria mulher invisível, corro os olhos pela loja a fim de entender o porquê de ninguém ter vindo ainda me atender. Havia poucos clientes na loja e alguns vendedores conversavam distraidamente.

Eles não devem estar me vendo, penso eu. Nesse momento de total abandono serviria até aquela vendedora que nunca me viu na vida me atendendo com um "fala meu amor" ou "e aí, o que vai levar hoje?" (insinuando que se eu tive a sorte de ser atendida é porque tenho que levar alguma coisa). Depois da fase do não saber como agir, entendo que o melhor mesmo é deixar ali aquele vestidinho fashion, a sandalinha que combinava com a bolsinha e partir para outra loja, que poderia até não ter os mesmos modelos e qualidade, mas quem sabe pudesse ao menos ter alguém que sabe que eu existo?

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 06/12/2006
Código do texto: T310886