Setembro

O trem segue lentamente o seu destino. Pela janela , observo a tarde mirabolante que se expande do norte ao sul. Sinto-me bem viajando, um pássaro abrindo asas rumo à sua liberdade perdida.Um vento repentino acaricia o meu rosto úmido e pálido. A nostalgia me domina e aquece-me. Retiro do meu bolso um pequeno pedaço de papel surrado. Há um poema escrito nele. Agonizo todas as vezes que o leio.

Palavras são devaneios, êxtase e vida. Tenho recordações de um amor que a vida e o destino souberam silenciar, porém, não sucumbir.Eu poderia ter todos os amores, mas eu sei que este sentimento é ímpar, singular. Essa unidade nunca será preenchida em meu ínfimo coração. Estou amuado porque o sol brilha lá fora. Tenho vontade de ver e tocar a chuva. A tarde de setembro prevalece sorrindo. Minhas costas doem e minhas pernas desejam andar.Levanto-me e coloco meu chapéu de cor marrom, há poucas vidas presentes na locomotiva. Muitos dormem, outros tentam ler romances fantasiosos e imaginários.Como eu gostaria de ser um protagonista feliz e heróico. No entanto, sou apenas um resto de nada.

Do lado externo do vagão, esquadrinho o tempo fugaz. O sol erguido no alto chama a morte para o nascimento da noite. No campo, literalmente verde, o gado pasta norteado por um vaqueiro valente. Deus, a valentia nunca esteve em meu espírito.O céu avermelhado é pintura dos deuses. Em questão de segundos ,estrelas brotarão cintilantes no lençol imaculado. Uma parte módica do meu ser se alegra, vejo nuvens arroxeadas, presságios de chuva, presságios do fim. O poema preso em minhas mãos . A leitura é moldada nos meus próprios sentimentos. Estou desesperado porque sinto falta daquilo que meus olhos nunca viram, estou perdido em labirintos que minhas próprias mãos construíram.

Tenho desejos, desejos de aniquilar tudo que o meu medo não me deixou construir.

Quando as estrelas dormem

Abra os seus olhos.

Quando o sol se apagar.

Acenda a sua luz.

Quando o piano desafinar.

Use sua voz e cante

Quando o amor morrer.

Ressuscite o seu viver

Solto no ar o poema. Mesmo ferido ele voa. Suas asas recebem a vida, o espaço. O mundo lhe pertence. Vidas inúteis te procuram, vidas insanas te almejam.

A viagem prossegue, espero que chova . Deus irá realizar este sonho. Eu acredito nisso, acredito...

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 10/12/2006
Reeditado em 01/09/2020
Código do texto: T314112
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