Silêncios

Ele parou e, como poucas vezes tinha feito antes, pensou se devia falar ou não.

Não queria estar ali, com eles, naquela hora incômoda onde o silêncio que antes era comemorado por demonstrar uma intimidade conquistada em somente um semana de convivência tinha agora um gosto tão amargo.

Fez uma das mais difíceis quebras de silêncio da sua vida, de um modo completamente teatral e desnecessário:

- "O que você sente por mim?" - disse rápido e meio indecifrável - e mesmo se tivesse dito lentamente, naquele momento todos esperavam somente essa pergunta e ninguém sequer se atreveu a pedir pra ele repetir. Nem precisou.

Entra em cena um outro silêncio, ainda mais desconfortável que o primeiro. Ainda maior.

- "Eu não sei." - respondeu o garoto para ele.

Ele então dirigiu a mesma pergunta pra menina. Obteve a mesma resposta, dessa vez num intervalo de tempo menor. Mas ainda assim seguido de um silêncio - esse sem tanto significado.

Eles estavam em três. Ele, o garoto e a menina. Os três tinham algo em comum - ou pelo menos achavam que tinham: gostavam um do outro, de modo platônico. Forte mas ao mesmo tempo sem significado. Os três já tinham se beijado, em momentos diferentes, na semana anterior.

- "Então vão os dois tomar no cu."

Jogou o cigarro no chão e foi chorar, sozinho, no bar.

João Aranha
Enviado por João Aranha em 07/08/2011
Reeditado em 07/08/2011
Código do texto: T3145661