Lembranças

Nasci em 1980, na cidade de Mauá aos três anos juntamente com meus pais fui morar em São José dos Quatro Marcos, estado de Mato Grosso. Foi lá que vivi as aventuras mais marcantes de minha infância, lembro da minha primeira amiguinha, a Telminha. Eu e ela aprontávamos todas, tudo que mamãe dizia que não era para fazer a gente fazia, tudo que era perigoso a gente gostava. Acho que só estou viva porque tinha um anjinho muito atarefado que cuidava de mim.
Lembro que no quintal tinha muito mato e desses matos saiam cobras e lagartos. Acostumei-me tanto aqueles bichos que achava a cobra coral linda e a aranha caranguejeira, no mínimo curiosa.
Eu não tinha medo de quase nada, só dos assassinos que circulavam pelas ruas. Na época na cidade não existia polícia nem delegacia, mas pistoleiros haviam de montão. As histórias sobre uma nova execução sempre era proclamada de boca em boca pelos vizinhos.
A execução que mais me marcou foi quando um rapaz matou o irmão mais novo por ciúmes do carinho que ele recebia dos pais, a morte foi sangrenta, foram várias facadas, o corpo só foi achado uma semana depois em meio ao matagal.
Dias depois vi o tal assassino em frente minha casa, mamãe e papai trabalhavam fora, minha irmã mais velha de 8 anos tinha ido para a escola, minha outra irmã na época com seis anos cuidava de mim, fato é que ao ver o rapaz assassino nossos corações dispararam e nós corremos para dentro, trancamos as portas e ficamos lá, morrendo de medo.

Talvez pelos perigos ou por estar muito longe da família meus pais decidiram voltar para Mauá, cheguei em São Paulo aos 6 anos.
Nunca mais vi a Telminha, mas fiz novos amigos, e continuei aprontando todas. Até hoje carrego algumas cicatrizes das minhas peraltices.
Minha irmã do meio agora tinha 8 anos a mais velha tinha 12 anos, era ela que tentava cuidar de mim. Fazia comida e me levava na escola.
No entanto por ela ser também muito menina não via perigo nas coisas que a gente fazia. E era um tal de escalar morro, subir na laje, entrar nas tubulações(em construção) de esgoto da rua. As vizinhas me chamavam e pedia para eu não subir mais na laje porque era muito perigoso, eu fingia que não entendia e lá ia eu me aventurar.
Esse espírito aventureiro me acompanha até hoje, para desespero de minha mãe, já fiz rapel, já pulei de bang jump, já fiz rafting, entrei em cachoeiras onde a correnteza era forte fiz outras tantas coisas consideradas perigosas, sei que tenho muitas outras emoções para ser vivida.
Encontrei nas poesias e contos uma maneira de extravasar toda essa minha inquietação. Aliás, acho que só fico tranquila quando estou buscando inspiração para escrever.