Uma vez abandonado, para sempre abandonado

Um homem quando é deixado por uma mulher perde um pouco a noção da realidade. O simples fato de ser deixado; no seu pensamento, torna-o num gênio da conquista, pois depois do porre, da depressão, vem a fase pegador, que pode ser traduzida assim: “Vou comer todas e aproveitar a vida, e provar para ela que tem quem me queira”.

Daniel nunca foi apaixonado por Lisinha. Na verdade eles se conheceram numa festa de comemoração do titulo interbairros. Ele não era o craque do time, lateral esquerdo, meio gordinho, e muito atrapalhando com o sexo oposto. Como não poderia ser diferente ela também não era a mais bela da turma, mas tinha os seus admiradores. O namoro ficou sério logo, e os dois não mais se desgrudaram. Diego inclusive por insistência de Lisinha deixou o futebol de lado, se dedicou a coisas que ela gostava como teatro, cinema, leituras, essas coisas que as mocinhas CDFs gostam.

Naquele final de tarde Diego tomou uma decisão. Precisava sair da fossa, uma semana tinha se passado desde que ela o deixou, chamou-o de imaturo, sugeriu um tempo, ele no fundo sabia que tempo nada mais é que um pé na bunda com almofada, e por isso entrou numa crise. Nos primeiros dias encheu a cara, depois a tristeza tomou conta e não saiu mais de casa, mas naquele sábado tudo iria mudar, ele precisava voltar à ativa e mostrar o que ela tinha perdido.

Colocou a melhor roupa do armário, usou um perfume que tinha ganhado de presente da mãe e que Lisinha não gostou por isso nunca tinha usado, colocou aquele adidas branco que ela dizia que não lhe caia bem e por isso estava juntando poeira no armário, e saiu.

Na estrada enquanto caminhava em direção a boate Nikita, ia imaginando no que poderia acontecer, imaginou mil cenários, mas o melhor deles, aquele que estava decidido a fazer naquela noite encheu seu coração de alegria. Ele no meio da pista, beijando uma loira, linda de pernas torneadas, grossas, e macias, coisas que Lisinha não tinha, pois ela era morena e magrinha, e ela num canto apenas olhando, com os olhos cheios de água, sendo consolada pelas amigas, que diriam: “se você gosta dele porque o deixou?”.

Aquela seria a noite de sua redenção, a noite em que o lateral esquerdo sem glamour tornar-se-ia no centroavante matador, e ela seria apenas mais uma na imensa lista que passaria a ter a partir de agora, afinal pegador que se preze tem lista de gatinhas já pegadas, com telefone do lado, e talvez até nota como a Bruna Surfistinha fazia com os clientes. Por falar em Surfistinha que bom seria se encontrasse alguém com o biótipo da Deborah Secco, da Bruna não que ela é muito feia. Como alguém tão feia foi interpretada pela Deborah Secco, cruz credo, isso sim era um mistério.

Pagou ingresso e entrou. Andou um minuto pelo salão e de repente encontrou a sua presa. Morena, alta, linda de morre, aquela seria a sua presa da noite. Andou em direção, sem medo, sem pudor, sem constrangimento, pois sábia que hoje ele era o centroavante, ele era um Damião, um Ronaldo, um Casagrande, hoje ele era imbatível. A cada metro para perto da morena, mais confiança ganhava, como um Romário correndo para bater um pênalti, não tinha duvida seria bola na rede, era gol com certeza, mas no meio do caminho ele viu Lisinha.

Por um instante titubeou e parou. Olhou para Lisinha que não tinha notada a sua presença, pensou em ir falar com ela, pensou na morena, na sua vingança, pensou em Dada Maravilha dando um voleio mortal, ele não podia recuar, era o seu dia de atacante, de matador, quando alguém chegou próximo de Lisinha e a beijou. Que beijo era aquela, foi longo, foi demorado, e ele sentiu uma vontade de chorar.

Em pouco tempo não pode segurar, sentiu uma lágrima correr-lhe o rosto, uma dor lhe cortar o peito, e sentiu uma vontade de fugir daquele lugar. Foi saindo de fininho, olhando aquele beijo de Lisinha, e ainda perto da porta ele olhou para a morena que estava longe rebolando feito uma cobra no sol, o gol estava escancarado, mas ele já não poderia marcar, pois agora ele estava se sentindo um André Lima, e assim se retirou e voltou para sua fossa, que ia durar só Deus sabe até quando.

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 25/08/2011
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