Delírios e revelações em sala de aula
Jorge Luiz da Silva Alves




     Olhava, comentava, suspirava: alheia às convenções sociais, senhora decidida dos instantes de prazer que lhe restava no diário cruciar das obrigações, Diuzilene torturava Riumelane no meio duma chata aula de Meio Ambiente, apertando seu braço e sussurrando-lhe seus delírios de chuveiro ou as gafes no trabalho ao lembrar do braço torneado e da montanha de músculos que, embasbacado, fitava-a toda santa noite lá do outro lado da comprida sala acadêmica – talvez por simpatia, educação, tara própria de jebalhudo da espécie; mas sempre com aquele ar perigosamente carente feito Marley-Cão-Largado. Várias foram as discretíssimas saídas no último/penúltimo tempo de qualquer aula a pretexto de toalete, já posicionando-se no shopping em frente à faculdade, na mesa mais explícita possível da praça de alimentação, à disposição duma iniciativa que jamais se iniciava. A esperança já bambeava no arame, e sem sombrinha ou rede ou vara, dia após dia, aula após aula, torres de chope e dissimuladas conversas com cdf's pinguços já maculando a barriguinha tratada a pão-de-ló pelo pão da academia... à toa.


    Até que, aconteceu.


   O momento. Vida que bateu à porta da esperança, impaciente, em forma de torpedo, justamente na aula de Pedagogia, guarda-roupa apurado e acessórios escolhidos a dedo por pura coincidência, pois viera da reunião do trabalho direto para a aula naquela noite quente e não houve como passar em casa para trocar-se. Ela, agreste criança faminta por rapadura, recebeu aquela cesta básica do amor próprio no seu Sansung ultrafino e feérico, tal show do Rock'n Rio.


   Afogueada nas vontades e afogada em transpirantes decisões, Diuzilene chegou à praça de alimentação pronta para ser devidamente deglutida. Esfaimada, observava o contorno do desejo, ombros, tórax, pescoço, nuca até os olhos: lupinos, eclipsantes, vorazes...?!

   ...dândicos?!


   O falsete – suave, totalmente dissociado de virilidade – pulverizou-lhe definitivamente a esperança da pernada, ao repetir, sonoro e purpurínico, a pergunta incompreensível:


   “ Me conta, onde você achou esse ARRASO de bolsa, meninaaaa!” 


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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 29/09/2011
Reeditado em 29/09/2011
Código do texto: T3248778
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