Além do limite

Mais um dia começa e Gustavo pula da cama antes do sol nascer. Veste o macacão azul escuro, calça as botinas de serviço, pega o óculos de segurança e corre para a esquina, esperando o ônibus da empresa na qual trabalha.

O dia é pesado, e apesar da conclusão do curso técnico em administração, Gustavo passa o dia a engatar cabos nos reboques carregados com toneladas de cana de açucar recém colhida, que são jogadas na moenda, para depois ser transformada em açucar ou álcool combustível.

Oito horas de serviço pesado, todos os dias. Na época de safra, horas-extras e serviço noturno, com revezamento de turnos.

Não bastasse, devido a algumas dores e cansaço, Gustavo foi fazer uma bateria de exames e graças ao exame de glicemia, descobriu ser portador de um tipo agressivo de diabetes, que demanda tratamento e tem como um dos sintomas a impotência sexual gradativa.

Sua namorada andava reclamando do sexo sem graça, mas Gustavo a tratava com regalias dignas de uma dondoca moderna.

Certo dia, por ironia do destino, Gustavo foi fazer um curso e conheceu um grande empresário do ramo de treinamento empresarial, que gostou do seu jeito educado e comunicativo e o contratou para dar treinamento em cursos de rotinas administrativas.

Logo Gustavo pediu demissão da Usina e se tornou um franqueado da empresa de cursos. Em seguida, passou a sócio e por fim adquiriu a outra parte da sociedade, tornando-se o dono da empresa.

Comandava mais de cinquenta professores, que além de ministrarem aulas, viajavam oferecendo os cursos em diversas empresas por todo o Brasil.

O menino prodígio conseguiu comprar caminhonete importada, moto de altíssima cilindrada, parafernálias eletrônicas como Ipad, Imac, Ifone, dentre outros brinquedos caros.

Presenteou a namorada com uma moto zero quilômetro, com roupas de marcas caras e passeios turísticos em praias brasileiras. Entretanto, a mesma procurava satisfação fora da relação de namoro, já que o companheiro não conseguia satisfazer seu jovem apetite sexual.

Não bastasse, durante as brigas, a mesma o chamava de "brocha", de derrotado, e impunha ao namorado humilhações frequentes.

Certo dia, durante uma reunião entre amigos em uma pizzaria, a namorada de Gustavo bebeu mais vodca do que de costume e passou a dizer para que todos os presentes escutassem que o namorado não "dava no couro", que o ponteiro do relógio vivia marcando "seis e meia", que todos os dias dormia com vontade, fazendo com que o namorado fosse exposto a uma situação mais que vexatória, frente a amigos, funcionários e outros clientes do estabelecimento.

Gustavo se levantou, foi até o balcão, pagou toda a conta, chamou a namorada bêbada e disse que não se sentia bem e que precisava tomar seu remédio.

Chegando em casa, Gustavo pediu que a moça esperasse na caminhonete. Eram 00h30.

Minutos depois, os vizinhos escutaram dois estampidos. E os que tiveram coragem de sair de casa viram Gustavo chorando, e gritando que um assaltante havia tentado roubar seu veículo e atirado em sua namorada. Logo depois, entrou na caminhonete e foi até o pronto socorro, onde foi constatada a morte da jovem devido a um disparo de arma de fogo bem no crânio.

Os miolos ensanguentados da jovem se espalharam pelo interior do veículo. E a polícia caçava o suposto assaltante.

Ocorre que o delegado responsável pelas investigações interrogou Gustavo, e percebeu que ele era considerado suspeito e não vítima.

Embora a arma do crime tivesse desaparecido, o delegado insistiu no interrogatório, fazendo as mesmas perguntas, mas de forma diferente, o que fez com que Gustavo caísse em várias contradições.

Vencido pelo cansaço de um interrogatório de quase 18 horas, Gustavo confessou que tinha assassinado a namorada.

Explicou que jogou a arma em um rio, contudo, a mesma nunca foi encontrada.

Foi o fim de um namoro que passou dos limites, e que teve teve um fim trágico, no qual uma moça impetuosa perdeu a vida e um homem humilhado perdeu a liberdade.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 28/10/2011
Reeditado em 28/10/2011
Código do texto: T3302864
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