111 - PAI! VOCE SE LEMBRA?

Pai! Pelo caminho que você hoje caminha eu ainda não posso caminhar, amanhã com certeza caminharei, momentaneamente nós nos desencontramos, e a vida tem dessas coisas e é preciso se conformar.

Pai! Depois da sua partida por longos meses ouvia a sua voz me chamando, preocupava-me por desentender o que estava acontecendo, ouvia tão nitidamente a sua voz que das vezes saia a sua procura, até que em meus sonhos você apareceu e me disse que por ser muito apegado a mim estava atrapalhando a minha vida, você disse que iria me deixar em paz.

Você me abraçou com ternura e saiu caminhando e lentamente foi desaparecendo, acenando no adeus!!

Pai! Desse dia em diante nunca mais eu ouvi a sua voz.

Pai! Você se lembra que foi o meu companheiro de pescarias, desde a minha meninice até a sua velhice, aventuramos por tantos rios, quantas lembranças ajuntamos, quantas saudades guardamos e outras tantas deixamos nas amizades firmadas naquelas pessoas tão honestas, tão puras, os ribeirinhos, sempre prontos para servir, quantos caminhos que nunca por nós caminhados... Caminhamos.

Pai! Você se lembra daquele natal quando eu tinha uns doze anos de idade, que de presente você me deu dois livros, momentaneamente fiquei chateado, queria uma bicicleta, mas a nossa situação financeira não era das melhores, saiba que aqueles dois livros marcaram para sempre a minha vida, aos lê-los e relê-los, não mais fui o mesmo, minha imaginação agigantou afora, mundo além, o meu olhar navegou horizonte adentro para as estrelas, me transformei, nasceu em mim um outro ser, um sonhador, Pai, ainda hoje tenho um livro daqueles, A Odisséia, o outro, A Ilíada, alguém pediu emprestado pra não mais devolver, livros do Homero.

Pai! Lembra quando estávamos pescando lá no rio Taquari-MS, você estava sentado sobre o tronco de uma velha figueira caída à margem do rio e na surpresa, no descuido, um imenso peixe, um pacu caranha agarrou no seu anzol e no tranco e no arranco você se desequilibrou e caiu dentro do rio, todos acudindo na preocupação, e para nossa surpresa ao tirá-lo da água você ainda estava agarrado na vara e com toda paciência do mundo se pos a lutar com o peixe até dominá-lo?

Pai! Você se lembra quando comprou um caminhão da marca Chevrolet novinho, pintado nas cores azul e branco, apelidado de Marta Rocha, você aprendeu a guiar sozinho naquelas estradas cerradeiras, mas quantas barberagens, quantas porteiras você arrancou, todas as porteiras do mundo pareciam por demais estreitas para a passagem daquele caminhão, tudo isto para desespero da minha Mãe que das vezes na companhia?

Pai! Tudo isto é tão pouco, mas esta é a minha maneira de dizer que você é inesquecível!!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 16/11/2011
Reeditado em 20/11/2011
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