Pobreza rica e riqueza pobre- Caixa de Gepeto 5ª edição

Tema do mês: Pobreza rica e riqueza pobre

São Paulo

Novembro 2011- 5ª Edição

1. INTRODUÇÃO

Pensei muito em relação a um título que pudesse mexer com todos vocês e minha inspiração veio da seguinte frase bíblica em Provérbios 14:31 “O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado.”

Que pobreza é essa que a escritura sagrada diz, seria apenas a pobreza vinda da desigualdade social ou a pobreza espiritual ,moral ou mesmo intelectual?

Será que ser pobre é sempre algo negativo?

A expressão "pobres de espírito" é usada na Bíblia com uma conotação totalmente positiva, diferindo do uso comum quando é quase sempre pejorativa. Ser pobre de espírito é característica fundamental de todo crente (ou pelo menos deveria ser) .São pobres de espírito aqueles que têm real percepção de sua absoluta dependência de Deus, por terem já descoberto que não são possuidores de nada. Paulo afirma: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum..." (Romanos 7:18), e ainda quando Davi diz: "Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim..." (Salmo 40:17).Pobre de espírito diz respeito a atitude do homem diante de Deus e não do outro. É a consciência de pequenez e insignificância que o indivíduo passa a ter diante de Deus.

Tenho um amor incondicional por São Francisco de Assis que fez da pobreza uma riqueza para o céu. No TAU Franciscano, pobre é aquele que tem o dom da partilha e gratuidade de seu próprio ser. Nesse contexto podemos chegar a conclusão que riqueza ou pobreza é algo muito relativo, depende da visão de cada um, porém a mais bonita riqueza existente surge da pobreza encontrada na humildade e na simplicidade que cada um do nós possui porém em alguns casos é necessário que esses sentimentos sejam encontrados no fundo do baú de nossos corações pois muitas vezes estão tão escondidos que parecem não existir em algumas pessoas.

Boa leitura e degustação

Ewelyn Gomes Oliveira

2.Hanna Paula

O POBRE OU O RICO: QUEM QUERO SER?

“Pobreza rica e riqueza pobre”, um tema que mexe com nosso íntimo, com nossas lembranças. Muitos de nós, em nossas vidas, nos deparamos com pessoas que não nos trataram muito bem porque nos julgaram pobres de matéria. Disse Jesus ao consolar os aflitos “os humilhados serão exaltados”.

Recordei-me de momentos difíceis de minha infância pobre de recursos financeiros, porém farta de ensinamentos que ganhei como riqueza para ter a coragem de enfrentar as dificuldades da vida. Minha pobreza não foi de um todo negativa em minha vida e na dos meus. Ela nos ensinou a valorizar as nossas conquistas, ensinou-nos a lutar pelo que almejássemos.

Pergunto-me: Que riqueza eu busco? Crescer espiritual ou financeiramente como pessoa?

Sou da opinião que “é preciso ser pobre de orgulho e rico em humildade”.

É preciso lutar pra ter uma vida financeira melhor, mas isso é o que realmente mais importa?

Há pessoas de boa condição financeira, mas que não tem boa educação. Tratam mal seu semelhante, são esnobes, demasiadamente consumistas, orgulhosas, rancorosas e vingativas; acham que são melhores que os outros porque tem dinheiro. A mídia, inclusive, incentiva atitudes como essas.

Mas também há pessoas pobres de matéria que não se conformam com suas condições de vida e revoltam-se culpando seus pais, o governo ou até mesmo Deus por sua infelicidade em não poder “curtir” a vida como “merecem”.

Nessa época em que vivemos, muitas pessoas estão cada vez mais egocêntricas, invejosas; julga-se e atira-se pedras no outro sem pensar duas vezes. Parece que valemos mais pelo que temos de material do que de valores. Os valores de amizade, respeito ao próximo e às diferenças estão sendo cada vez mais subestimados e assim acabo por me preocupar com o mundo que estamos deixando para nossas crianças.

É preciso desenvolver a consciência da colaboração, da solidariedade. Isso não deve se restringir ao discurso sem atitudes concretas. Essa verdadeira riqueza não se pode deixar perder; a riqueza do amor que Jesus nos ensinou. Ele nos mostrou como amar e zelar pelo nosso semelhante. Ele não disse que devemos amar o semelhante que possui mais ou menos recursos. Ensinou-nos a amar a todos, independente de riqueza ou pobreza, mas Jesus acolhia especialmente aqueles que eram excluídos, os que eram discriminados.

Quer riqueza maior do que essa?

Pergunto-me: quem sou eu, sujeito de infinitos defeitos, para me achar melhor que meu próximo só porque tenho condições de usar um perfume ou uma roupa melhor que ele? Quem sou eu para pisar em alguém porque posso pedir comida delivery enquanto meu irmão, sim meu irmão, meu semelhante, conta moedas para comer um pão, que talvez seja seu único alimento do dia. As tecnologias vão avançando e são ridicularizados aqueles que por qualquer motivo não conseguem acompanhar todos esses avanços.

Como posso ver na tv uma criança em pele e ossos padecendo de fome e não sentir compaixão?

Como posso continuar destruindo de maneira inconsequente o planeta, desperdiçando e desvalorizando o que tenho, quando o que desprezo seria a riqueza daquele que nada possui.

E ficam as seguintes questões: é mais rico aquele que humilha ou aquele que é humilhado? Quero ser rico ou pobre? Onde está minha verdadeira riqueza?

Não valorizamos o que realmente importa e como diz Willian Shakespeare “sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos”.

3.Ramires Karamazóv

A REFLEXÃO POLÍTICA NO CONTEXTO DA PRÁTICA RELIGIOSA

A pobreza é uma infinidade de variações em torno de um tema: a política. Por isso, deslocamos o assento sobre a pobreza para fazermos uma reflexão política. É impossível uma religião que não se incomoda com o mundo. Com tal pensamento, nesse opúsculo fazemos uma reflexão política no contexto da prática religiosa.

Frequentemente encontram-se dois dualismos na Vida Religiosa Consagrada: reflexão x prática e política x fé. O papel do intelectual cristão não deveria ser justamente este: conhecer a realidade e se perguntar pelas causas dos fenômenos? Será que teremos que abandonar definitivamente a afirmação do ser humano como animal racional em Platão e animal político em Aristóteles?

Dom Hélder Câmara dizia "Se dou pão aos pobres me chamam de santo, se pergunto por que os pobres não têm pão me chamam de comunista". Na reflexão política no contexto da prática religiosa, tal proposição passa a ser entendida assim: Se dou pão aos pobres me chamam de religioso, se pergunto por que os pobres não têm pão, me chamam de político! Contrariando uma tradição de separação entre ética e política (onde há política não há ética) que vem de Maquiavel e gerou a dissociação entre religião e política em termos históricos, isso poderia ser traduzido na necessidade de se pensar o contexto da religião e de Jesus. "Há quem insista que Jesus se restringiu a comunicar-nos uma mensagem religiosa que nada tem de política ou ideologia. Tal leitura só é possível se reduzida a exegese bíblica à pescaria de versículos, arrancando os textos de seus contextos. Ora não é só o texto que revela a Palavra de Deus, também o contexto social, político e ideológico, no qual se desenrolou a prática evangelizadora de Jesus. Todos nós, cristãos, somos inelutavelmente discípulos de um prisioneiro político" (Frei Betto, in A Mosca Azul).

Ao lado da razão cientifica, da razão crítico-literária, da subjetividade e da intersubjetividade, da secularização e do relativismo, da bio-ética e das ciências de maneira geral... a política aparece como um dos grandes desafios da religião (e da Igreja) na era contemporânea. Um problema que não é novo e que ganha novo fôlego de enfrentamento no período pós-Vaticano II, há 50 anos, quando a Igreja se volta para o povo e se encontra com os desafios da política (entusiasmo, decepção, centralização, retomada realista). Surge a Teologia da Libertação como tentativa de responder a esses desafios, participando da virada hermenêutica e flertando com a política pela via do marxismo (o que trouxe problemas).

De onde vem a Teologia da Libertação senão da pregação do amor de Deus aos pobres? A Teologia da libertação, nas palavras de Libânio e Boff, tem como premissa básica a reflexão da práxis sob a luz da fé e os resultados desta ação iluminando a própria prática ― quem reflete está engajado na prática (o teólogo se deixa motivar e questionar pela práxis) ― rompem-se muitos dualismos ― fé e política se unem novamente.

Além disso, a Igreja se configura a partir das Comunidades Eclesiais de Bases e das Pastorais Sociais e isso traz novidades eclesiológicas. "O domínio da política" ― declarou o papa Pio XI a 18 de dezembro de 1927, em discurso dirigido à Federação Universitária Italiana ― "que considere os interesses da sociedade toda, é o campo mais vasto da caridade, da caridade política, da qual se pode dizer que nenhuma outra lhe é superior".

4.Flávio (Flis)

A GRANDE POBREZA E A PEQUENA RIQUEZA

Num mundo que é guiado por um sistema econômico em que o outro se não consome é um nada, me pergunto: o que então é ser rico e o que é ser pobre?

Se, ser rico é estar dentro desse conceito de imperialismo norte americano, então muitos são ricos. São ricos porque consomem, a acabam virando “marcas” e não pessoas. A pessoa se torna um marketing. Ser rico é possuir bens, roupas de marcas, estarem na moda.

Então, num mundo que está em crise – principalmente no campo econômico – me questiono sobre o calor dessa tal riqueza. País como a Grécia vive em dias em que a “sua riqueza” trás de modo bem claro que essa fortuna que tanto se fala, não é bem uma grande fortuna-riqueza.

Essa – denominação de classe social – é uma pequena riqueza. É pequena, pois não satisfaz aquilo que realmente somos. Torna-se feliz desde que se tenha algo que está fora de mim. Isso é uma falsa riqueza, porque é preciso ter para ser rico. E se é preciso ter para ser rico, então há algo para de pensar: porque então país como a Grécia que é o berço da cultura ocidental, vive em crise? Será que a riqueza salvará a humanidade?

Diante de tais perguntas vamos caminhar por outra via. O caminho daqueles que não temem perder-se por caminhos tortuosos. Perante a crise mundial primeiro fica evidente que ser rico não é ter bens ou dinheiro. E como um bom teólogo franciscano tento responder a tal questão olhando para a Encarnação. A grande festa em que céu e terra trocam presentes, nós ofertamos a nossa humanidade e Deus nos retribui com sua divindade. A nossa história a partir desse momento está marcada pela presença divina em nossa vida.

Mas Jesus ele é a nossa riqueza. Nosso maior tesouro. Entramos no paradoxo cristão, ele sendo rico se fez pobre. Ele veio ao mundo pobre e caminhou pobre e nu morreu na cruz. Logo o possuir bens não é condição de ser rico. Ser pobre isso sim é ser rico. Nessa pobreza de Jesus cada ser humano é convidado a se libertar daquilo que o impede de ser ele mesmo.

Pobreza nesse campo é a uma grande riqueza. É ter nada exceto você mesmo. Riqueza é a ter tudo exceto você mesmo. Assim, onde eu coloco meu coração ali é a minha riqueza. Jesus enquanto caminhou entre nós, de bens pouco ou nada teve, e nem por isso foi um homem decepcionado ou reprimido. Viveu plenamente todos os momentos.

Enquanto vivermos em função de divisão social – lutas de classes – o mundo será divido em pobres e ricos. Crises e mais crises virão sobre a humanidade, pois os relacionamentos não acontecerão sobre o prisma do que é o ser humano, mas de uma riqueza podre e pecadora.

São Francisco nada quis para si e enquanto alguns viam, no fogo e na lenha possibilidade para suas fogueiras santas, ele – Francisco – via no fogo um irmão. Da mesma forma, enquanto olharmos para o ser humano enquanto pobres e ricos não iremos descobrir a nossa essência.

5.João Michels

POBREZA QUE ENRIQUECE

É, o Reino dos Céus é dos pobres. Mas calma, se você é podre de rico não se assuste não. Os que herdarão o Reino dos Céus não são os pobres materialmente, e sim, os pobres de Espírito. Jesus nos diz: “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus” (Mateus 5:3)

Pobreza de espírito. O que seria isso? Seria ser descrente, pobre de crença, miserável espiritualmente? Não! Os pobres de espírito são os humildes perante Deus. Orgulho não levará ninguém ao céu não.

Os pobres materialmente geralmente são mais humildes. Sabem o valor do trabalho e reconhecem a importância do dinheiro como modo de vida, e não como necessidade para viver. Vide os exemplos de Madre Teresa, Irmã Dulce, Dom Orione. Pobres que mesmo sem muito dinheiro levaram o Reino de Deus, a esperança e o amor aos necessitados.

Esses são os pobres de espírito. Veja bem, não pretendo aqui dizer que os ricos não merecem o céu. Muito pelo contrário. Muitos ricos humildes doam sua vida e seu dinheiro em favor das pessoas necessitadas. Entretanto, os ricos, justamente pela posição social tendem mais a serem orgulhosos. Orgulhosos da vida que levam, do dinheiro que tem... Muitos são cegados pela idolatria do dinheiro e da ganância, assim como o rico da parábola, deixando apenas migalhas para os Lázaros da vida.

Quantas pessoas tem dinheiro de sobra e vivem depressivas e tristes pelos caminhos da vida. Sabe, muitas vezes a expressão “Nóis é pobre mais é feliz” não poderia ser mais verdadeira. Como disse antes, é só olhar o exemplo dos Santos da caridade, sempre com um sorriso meigo e amável nos lábios, reconhecendo a Cristo nos irmãos.

Fica aí a dica pra nós, que queremos o reino dos Céus. Sejamos humildes, amorosos... vivamos bem nossa vida, retamente no amor e na paz, no respeito e na humildade. Grande abraço.

Paz

6.Ewelyn Gomes

A POBREZA E A RIQUEZA DOS IDOSOS- O CUIDADO

Esse último domingo estive em um asilo, fizemos uma serenata para os velhinhos, foi algo muito bonito e rico em aprendizado.

Chego à conclusão que uma das maiores riquezas que existem no mundo são geradas a partir do ato de cuidar.

Você já notou o quanto precisamos de atenção das pessoas, não importa se somos idosos, jovens ou bebês. Sem cuidado deixamos de ser humanos.

Quando temos zelo por alguém saímos de nós mesmos e entramos no outro de forma encantadora.

Uma idosa me chamou muita atenção, muito magrinha, cabelos completamente branquinhos e olhos da cor do céu. Cada frase que dizia deixava a todos nós que participávamos da serenata uma charada sobre a vida: O que é realmente importante?

Quando nascemos somos completamente pobres, banguelas e analfabetos. Quando estamos chegando a reta final de nossas vidas a pobreza aparece de forma semelhante, mas muitas vezes acompanhada por algo um tanto triste e duro, o abandono. Como podemos nos sentir sozinhos em um mundo tão lotado de gente de bom coração?

No livro “O pequeno príncipe” de Antonie de Saint Exupéry o principezinho tinha o objetivo de ir visitar novos mundos para conhecer amigos, e em uma dessas visitas acabou por cativar uma raposa e se tornou responsável por ela, será que nós também não somos responsáveis pela felicidade de quem está ao nosso redor colocando como base que pobre é alguém que necessita de algo e rico é aquele que tem condições de exterminar essa carência?

No asilo sentei no banco ao lado de uma senhora e ela me disse algo que me marcou muito “não há dinheiro que pague essa visita”, ela disse isso com um sorriso lindo nos lábios e segurando minha mão com muita força como se não quisesse que nós fossemos embora nunca mais, acrescentou “vocês encheram nossos corações de alegria”.

O primeiro impulso que temos é o coração, não a cabeça. O cuidado está na origem do sentimento, ele acompanhará o ser humano ao longo de seu percurso no mundo, conforme diz a Fábula de Higino. O cuidado derruba a ditadura da racionalidade fria (pobreza de espírito), e pode ser um antídoto para pobres, idosos, ou qualquer pessoa carente de afeto.

Chego à conclusão que atualmente é importante e até gritante, que resgatemos o respeito e o cuidado para com o outro, pois infelizmente as pessoas andam muito apressadas , impacientes e sem muita disposição para atentar-se aos problemas e necessidades alheias.

Chega de egocentrismo, de importar-se somente com nossos anseios, cabe a nós como seres humanos, transmitir a importância do cuidado para o outro.

Pergunte a um idoso de qualquer asilo se ele prefere atenção ou dinheiro?