Maria Helena

Maria Helena abriu lentamente seus lindos olhos de gato, agora deformados pela rudez dos abarroamentos sofridos durante a enxurrada. Olhou para o lado e, apertando bem a vista, conseguiu perceber que parada ali estava sua mãe.

- Oi, mãe. Onde estou? Cadê ele? – perguntou Leninha num sopro apenas de voz.

- Olá, filhinha. Descanse. Você está no hospital. – respondeu docemente Dona Leonora, mãe de Maria Helena, com a voz embargada.

- No hospital? Mas ... cadê ele? Cadê meu príncipe?

- Príncipe? Melhor chamar a enfermeira. É delírio. Deve estar com febre.

- Não, mãe. Não é delírio. Ele me salvou. Colocou-me em seus braços e levou-me para seu reino. Só não entendi como vim parar aqui, nesta cama, e com a senhora.

Dona Leonora, percebendo a aflição de sua filha, sentou-se na cadeira de balanço ao lado da cama e pediu que Leninha contasse do que se lembrava.

Maria Helena soltou um largo sorriso, seu sinalzinho de beleza ainda apareceu, apesar dos lábios inchados e dos pontos que levara no canto direito da boca. Faltavam-lhe agora os dentes da frente, os mesmos que lhe renderam a fotografia em um outdoor de creme dental.

A enfermeira entrou para verificar a medicação e refazer os curativos. Trouxe também o jantar de Dona Leonora.

A dor fora tão intensa. Leninha precisou ser anestesiada durante a troca de curativos. Dona Leonora acariciava os cabelos da filha em uma tentativa desontrolada de tirar-lhe o sofrimento.

Duas horas depois daquele tormento, Maria Helena acordou, sorridente, olhou para sua querida mãe, apertou-lhe uma das mãos e contou-lhe tudo. Disse-lhe que saíra para ver a chuva na rua, juntamente com as amigas. Elas brincavam na calçada quando soprou um vento muito forte, tão poderoso que a fizera cair na calçada, junto ao asfalto, entre os carros estacionados. Tentou levantar-se, mas, do alto da rua, descia uma tromba d’água que empurrou-a rua abaixo por entre os carros, sentiu seu rosto bater fortemente nas ferragens. Foi então que, ao conseguir abrir um pouco os olhos, viu aquele moço, envolto em uma espuma branca, pegá-la no e salvá-la.

Maria Helena disse à sua mãe que sentiu o quanto ele era forte. Antes dele a colocar nos braços, lembra de tê-lo visto gritar e correr desesperadamente em sua direção. Nunca esquecerá do calor daquele corpo, de como ele a fez voltar a si, de quão belo era seu reino.

- Ele era tão alto, bravo, forte. – dizia Leninha.

Dona Leonora suspirou profundamente. Abraçou carinhosamente a filha, deu-lhe um beijo na testa, e saiu. Encostada na parede do corredor do hospital, telefonou para Pedro:

- Pedro? Obrigada mais uma vez, meu filho. Ela está fora de perigo agora. Você será sempre o príncipe salvador de Leninha.