Amigos do Natal (Miniconto)

Lucas caminhava de um lado para o outro no seu quarto. Olhava para as paredes multicores, via os desenhos de personagens da Disney que circundavam todo aquele cômodo. Ele estava cercado de brinquedos, e luzes. Os pisca-piscas faziam o que sabiam de melhor; piscavam, cheios de brilho, dando àquele quarto um cenário maravilhoso. Havia um lindo papai Noel, um boneco enorme e gordo ao lado da porta. Olhou para aquilo e ao contrário de toda criança ele chorou. Lágrimas geladas surrupiando o brilho de teu olhar. Ajoelhou-se á beira da cama e fechou seus olhos em um ultimo apelo.

- Senhor, papai do céu. To aqui pra falar com o senhor... de criança para Deus. Sei que o senhor tem estado comigo, que me deu este quarto maravilhoso. Sei até que o senhor me mandou um presente de Natal. Um lindo presente, por sinal. Mas Deus, só eu fiquei aqui. O senhor já levou meu papai, minha mamãe, e até alguns de meus amiguinhos. Olha só o tanto de camas vazias ao lado da minha! – Ele disse abrindo os olhos por um segundo e apontando suas mãos para as camas que enchiam aquele enorme quarto. – Ah Deus, eu tava aqui pensando. A tia falou que a gente precisa agradecer o senhor pelo dom da vida. Por tudo que tem nos dado. Não to aqui pra reclamar, só queria que nesse natal o senhor deixasse que em meus sonhos eu visse todos eles reunidos aqui, junto de mim. Queria que eles tivessem com seus cabelos crescidos, sem seus olhares amarelos, sem precisar tomar os remedinhos. Queria que meu papai e minha mamãe não tivessem ido me levar pro hospital naquela tempestade, queria não ter passado tão mal naquele dia. – As lágrimas de Lucas pingavam sobre o chão, enquanto ele persistentemente continuava a orar até que seus olhos se cansaram, já avermelhados, as pestanas pesadas, se fecharam como janelas ao fim do expediente. Seus olhos carnais se apagaram e ele caiu na modorra.

Maria levantou a noite e o colocou na cama, ainda era dia vinte e três, o natal seria no dia seguinte. Ela sabia que Lucas estava triste. Aquele havia sido um ano difícil. Poucas doações, muitas percas. Ela já havia se acostumado com aquelas crianças. A maioria dos amigos de Lucas foi passar o natal com suas famílias, mas ele não tinha mais ninguém. Outros não haviam suportado a doença. O câncer os havia levado. Aquele garotinho que levava uma vida tão saudável e adorava futebol, mas agora estava entre as doze á treze mil crianças atingidas pelo câncer no Brasil. Ele tinha Leucemia. Maria se ajoelhou e orou por ele, beijou-lhe levemente a testa como nunca havia feito e saiu dali pedindo a Deus que esse natal ela pudesse vê-lo sorrindo.

Era manhã, Lucas ainda não havia levantado para tomar seu café. Maria foi ao quarto com o coração na mão, esperando o pior visto que seu caso era um dos mais graves naquela casa de apoio. Chegando lá se deparou com o garoto de joelhos orando, enquanto seu rosto estava banhado em lágrimas. Ela preocupada o disse:

- Querido, agora vamos tomar seu café. O papai do céu não gosta que fique triste.

- Eu sei tia, mas é que preciso fazer isso. Ele sempre foi tão bom comigo. Ele me deu isso tudo, me deu você. Tenho que agradecê-lo. Ontem pedi que ele me desse um lindo sonho, que eu pudesse ver minha mamãe e meu papai. – Maria surpresa perguntou:

- E você sonhou com eles?

- Não, tia. Não sonhei. Não tive sonho nenhum essa noite. – Maria incrédula olhou nos olhos da criança que sorria feliz para ela.

- Mas então por que está rindo? – Ela perguntou surpresa ao ver aquela carinha de felicidade que Lucas carregava. Algo realmente atípico.

- Ora tia Maria, por sua causa. Ontem te vi orando por mim, ouvi cada palavra sussurrada de sua boca, senti o toque de seus lábios em minha testa, como só meu papai fazia comigo antes que eu dormisse. E isso me fez lembrar que meus pais ainda cuidam de mim. La do céu, através de pessoas como a senhora. Pessoas que dedicam suas vidas a nós. Estou muito feliz por meus amiguinhos que agora estão com suas mamães e papais. Assim como eu. – Maria não se conteve e deu um longo abraço em Lucas. Ela se ajoelhou a seu lado e eles fizeram uma prece para que Deus cuidasse daquelas crianças, que velasse por elas. Naquele instante o som oco de uma batida na madeira tirou-lhes de suas orações e ambos viraram-se para a porta do quarto.

- Posso me juntar a vocês? – Perguntou Felipe um dos amigos de Lucas que havia ido passar o natal com sua família. Eles responderam que sim, surpresos pela presença dele. E logo seus pais chegaram, e todas as crianças chegaram uma a uma, junto de suas famílias. Aquela casa de apoio encheu-se de uma comunhão incrível. Todos orando, mas não pedindo um presente a Deus, mas sim agradecendo a Deus por estarem presentes ali. Cada um levou algo e fizeram uma enorme ceia de Natal. Juntos cantaram, se divertiram, sorriram. Alguns até choraram de alegria e Lucas descobriu que sua família nunca o abandonaria e que Deus sempre estaria com ele, e sobretudo, que suas bênçãos eram derramadas á sua maneira.

“Deus sabe o que faz, e aquele que crê nele também sabe o que faz”

A todos um excelente natal, e um ano novo repleto de realizações.

Esses são meus votos para todos vocês!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 22/12/2011
Reeditado em 23/12/2011
Código do texto: T3402470
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