FDS
            Como ratos escapando de um bueiro, fogem os habitantes da cidade grande todos os finais de semana, para todas as direções possíveis, desde que signifiquem distância da muralha urbana que os aprisiona. Moram ali, mas não se sentem em casa. Saem dali e continuam se sentindo fora de casa. Jamais haverá um plano habitacional capaz de dar abrigo a esses pobres desabrigados. Que voam para o interior, transportando para lá os mesmos vícios da metrópole em forma de poluição convivencial.
            Há um desconforto na constatação do fato de que na cidade em que moro há gente demais. Se há gente demais, eu também estou demais, pois sou parte dessa gente. E não me sinto em casa. Mesmo que não tenha consciência disso, sofro os efeitos do fenômeno.
            A densidade demográfica age como compressão: muita gente e pouco espaço. O tamanho da cidade denuncia a falta de espaço como o calo crescido do meu pé deforma o sapato que eu calço. Ele se avoluma, porque é pequeno para aquele pé.
            A compressão expande-se pela violência. Assim como na medida em que se aumenta o número de ratos numa gaiola, aumenta a violência entre eles, chegando à mútua destruição.
            Uma cidade desproporcional é como alguém com corcunda, verrugas, nádegas volumosas, nariz descomunal, orelhas que espadanam e barriga protuberante. Um monstro, fabricando monstruosidades.
            A pressa é uma ganância fugitiva de um percurso sem paisagens e sem encontros...
            Por isso, aperta o passo ou pressiona o acelerador.