"O SOFRIMENTO LEVOU-OS AO...............

“O SOFRIMENTO LEVOU-OS AO ...............

Esta estória começa no consultório do Dr. Celso Lustosa, onde um casal de idosos, Seu Tadeu e Dona Angelina vão, todos os meses, às consultas agendadas. Dr. Celso é geriatra e nutre pelo casal um sentimento afetivo, uma vez que já se conhecem há muito e, para eles é, não só o medico, mas, também, o amigo e conselheiro.

Dr. Celso conhece profundamente todo o drama desse casal que ele admira pela lisura e educação e lamenta não poder ajudá-los mais do que gostaria... Mas acompanha, com dedicação, todo o processo de tratamento, em consonância com os outros profissionais inerentes...

Vamos à estória: Seu Tadeu e Dona Angelina possuem 4 filhos, sendo 3 biológicos e 1 adotado: 1) O mais velho, Lauro, 36 anos, vendedor fracassado; já casou 2 vezes e se separou. Todas às vezes que briga com as mulheres, volta para casa dos pais... 2) Lúcio, 34, solteiro, leva uma vida desregrada, não para nos empregos; acha-se sempre superior aos cargos que lhe são oferecidos, por isso, não para em nenhum... 3) Lucimar, 31, solteira, essa trabalha com marketing, mas vive reclamando de tudo.... E, por último, Helena, filha adotada, com 25 anos. Após terminar o 2º. Grau, optou por ficar em casa e ajudar Dona Angelina na lida diária pois sabe que Ela sozinha não dá conta de administrar uma casa tão grande e com tanta gente ociosa. Helena é pessoa do bem e tem adoração pelos pais adotivos. Tem, ainda, o neto adolescente, filho de Lauro, criado, desde pequeno, pelos avós, chamado Leonardo, menino de boa índole mas um pouco triste, pois só encontra amparo e carinho por parte dos avós e de Helena que ajudou Dona Angelina a criá-lo.

Pelo exposto, parece uma família como todas as outras, com problemas, também, como todas as outras... Mas não é bem assim...

Dos irmãos biológicos, a filha Lucimar tem um ódio doentio da pobre Helena, a quem chama de intrusa, humilha-a constantemente, ofende-a, provoca-a, chega a agredi-la fisicamente:

- Sua negra metida, ainda vou acabar com a sua raça!

Humilde, Helena lhe implora:

- Que mal lhe fiz pra me odiar tanto?

- Fica aí dando uma de boazinha só para conquistar meus pais. Algum interesse você tem, pensa que não sei?

- Você está enganada... Não quero nada de vocês, só em ter o carinho deles, para mim foi tudo o que eu desejei e isso, graças a Deus, eu consegui e guardarei comigo a minha vida inteira...

E assim as provocações continuaram por muito tempo. Dona Angelina não tem mais forças para brecar as investidas da filha que, furiosa, a ofende, também...

Seu Tadeu tem a saúde mais fraca e, por isso, entra num processo de depressão profunda; pouco fala, fecha-se no quarto e não sai nem para comer... Dona Angelina sofre terrivelmente e chora sempre às escondidas, para não aumentar a tristeza do marido, que define a olhos vistos.

Voltemos, então, ao consultório do Dr. Celso: ao tomar conhecimento dos últimos episódios, com Dona Angelina afirmando que já não aguenta mais aquela vida, que está a ponto de ficar louca... Dr. Celso tenta acalmá-la:

- Em primeiro lugar, tente convencer Lucimar a fazer uma terapia, com um bom psiquiatra. Ela não está bem e assim pode levar todos ao sofrimento... Peça ajuda aos outros filhos para tentarem convencê-la, para o bem dela mesmo...

- Já tentamos, Dr. mas ela não nos ouve; diz que a estamos chamando de louca.

- Mas tente assim mesmo... Agora, com relação aos exames do Seu Tadeu, está tudo bem, coração, pulmão, colesterol, até a pressão está normal. Só precisamos tratar, agora, essa depressão... Procure afastá-lo sempre das discussões, leve-o a passear no jardim, olhar crianças brincando, isso é uma terapia que pode ajudar; sei que ele sempre amou as crianças.

- Vou receitar um tranquilizante para ele dormir melhor, a senhora também pode tomar. Mas cuidado, use exatamente conforme indicado na receita.

Dona Angelina voltou para casa um pouco menos ansiosa, mas quando deu com seu neto, Leonardo, sentado na varanda, pensativo, sentiu uma pena daquele pobre menino, tão relegado pelo pai e pelos tios; num lance de emoção abraçou-o chorando copiosamente:

- Que foi vó? Por que está chorando? O vô não está bem?

- Não é nada, meu anjo, o seu vô só está triste... Vá até lá no quarto, converse um pouco com ele e diga pra ele que você o ama muito...

- Está bem vó, eu vou. Mas eu amo muito a senhora também...

Naquela tarde, Lucimar, no trabalho, recebeu um telefonema de um dos irmãos avisando que os pais tinham feito um testamento incluindo a Helena , também, como beneficiária na herança...Bastou isso para acirrar mais ainda o ódio que sentia pela irmã adotiva. Dizendo impropérios para todos ouvirem no ambiente de trabalho, foi suspensa até que se tratasse, caso contrário, seria despedida.

Chegando à casa, num acesso de loucura, tentou agredir a irmã e esta, não conseguindo acalmá-la, fugiu para a rua pedindo socorro. Lucimar, então, começou a quebrar tudo que via pela frente, só sendo barrada pelos vizinhos, que a seguraram firme e esperaram a ambulância que a levou para uma clínica psicológica.

Na manhã seguinte, Helena chegou à cozinha e estranhou a falta de Dona Angelina; era ela, sempre a primeira a levantar e a preparar o café para todos . Não quis acordá-la, afinal o dia anterior fora terrível, era justo que ela descansasse bastante... Ela, mesmo, fez o café, arrumou a mesa e só pelas 9 h, os outros começaram a levantar e... nada de Dona Angelina... Às 10 h, resolveu ir ao quarto para perguntar se queriam que levasse o café para eles . Bateu. Não houve resposta; abriu a porta e o que ela viu deixou-a apavorada e, num grito lancinante, desmaiou.

Na cama, estavam os corpos do casal, mortos e abraçadinhos...

Na mesinha de cabeceira, além do vidro dos remédios vazio, havia um bilhete dirigido aos filhos, nos sequintes termos:

Amados filhos: pedimos perdão pelo nosso gesto, mas chegamos à conclusão que o nosso lugar aqui na terra, não tem mais sentido... Agora, compete a cada um de vocês seguir o caminho que vos foi ensinado por nós, não esqueçam que o vosso pai foi um exemplo e que deve ser seguido. Lauro e Lúcio, vocês que são os mais velhos cuidem bem da sua irmã doente e do meu neto ,que é ainda um adolescente inseguro e precisa de apoio e carinho. No nosso testamento, deixamos para a Helena, aquele sitiozinho na zona rural para que ela não fique desprotegida. Os bens restantes vão ser divididos entre vocês. Cuidem bem deles, afinal é um bom patrimônio. Achamos que Deus vai nos perdoar pelo nosso gesto e vocês também. Adeus e que Deus vos abençoem. Amém!

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 26/01/2012
Reeditado em 27/01/2012
Código do texto: T3463520