IMPOSSÍVEL SER INSENSÍVEL

Após o período de férias, com a casa cheia de crianças – nossos filhos e os seus coleguinhas –, feira dobrada, viagens, shoppings, brincadeiras, risos e gritos infantis; enfim, de volta às aulas.

Depois de todo o período de descontração... Contrações – caras e bocas - expressando espanto, com extratos e, conta bancária...

Na busca por material escolar, com uma enorme lista na mão e, o coração na outra, presenciei uma cena que me causou dor.

Nas idas e vindas pelos corredores de certa livraria, notei uma garota, de uns dez anos de idade, eufórica, junto aos pais escolhia, o seu material escolar - Carrinho cheio, coração radiante.

Diante de tal alegria sorri para ela que, devolveu-me o sorriso mais lindo por mim visto, depois dos risos dos meus filhos.

Cheguei ao caixa, à minha frente, estava a feliz garota que sorridente colocava cada item de sua lista. Depois de tudo registrado, o seu pai entregou o cartão de crédito para efetuar o pagamento.

A funcionária da respectiva livraria falou com pesar: – Senhor, não foi liberado...

O homem, respondeu com uma indagação: – Por quê?

– Não sei senhor... Deixe-me tentar mais uma vez.

A mãe da garota, visivelmente embaraçada, balbuciava frases de decepção... A linda e agradável menina, perplexa, procurava entender a constrangedora situação.

Enfim, não foi possível efetuar o pagamento dos sonhos daquela menininha.

Senti a dor daquela mãe; a vergonha do pai; toda a decepção da criança que, amei à primeira vista. A garota chorando perguntou a mãe: – Não vamos levar o meu material, mãe?

– Tenha calma... calma!

A mulher perguntou desesperada ao marido: – Em que você estourou o limite do nosso cartão?

O homem disse constrangido: Vamos embora, vamos!

O meu coração chorou. Não senti prazer em ouvir o barulho daquela maquininha registrando o meu pagamento...

EstherRogessi,Conto Cotidiano: IMPOSSÍVEL SER INSENSÍVEL, Recife,01/02/12