Para dizer eu te amo

O cigarro aceso continua depositado no cinzeiro de vidro. A garrafa de uísque ainda cheia pela metade , decora a pequena mesa de madeira no centro da sala.No sofá , meu corpo robusto permanece estendido e estático feito um morto desamparado.

A penumbra esconde triste meu semblante moribundo. De olhos bem abertos, porém baços, escuto os ponteiros do relógio de parede que não param de dançar. Na corrida das horas não há vencedor que não seja o próprio tempo que rouba e nunca mais traz de volta todos os sonhos que um dia sonhamos.

Levanto-me lacônico, rastejando meus pequenos pés sobre o carpete persa que comprei há três dias. Ele seria um presente, no entanto, o meu maior presente me presenteou com o seu silêncio.

Apresso os meus passos, ao lado da estante uma cômoda abriga um jarro de flores, papéis, minha carteira e o telefone. Como eu gostaria de telefonar agora! Meus dedos se aquecem e minha alma se envaidece de desejos.O telefone diante de mim. As teclas dos números reluzem, gesticulam, mas, ninguém ouvirá a minha voz. O amor é minha desilusão, meu conflito diário...

Na verdade o amor me agoniza. Se eu pudesse maltrata-lo, seria muito feliz.A vida não ganharia nem perderia nada.O amor nos esnoba, esse sentimento nos empobrece...Nos acossa.

Farei o telefonema, preciso apenas de coragem. Retiro o telefone do gancho.Ouço o sinal da linha:sinal da solidão. Aperto bruscamente a primeira tecla....

Desisto...

“O amor nos esnoba, esse sentimento nos empobrece...Nos acossa”.

Eu não tenho cura, não existe remédio para prevenir a dor que sinto agora.Mas, que dor é essa? Dor que me corrói a mente, os sonhos, os pecados.

Não insisto...

Para dizer eu te amo, eu teria que me amar, eu não me amo.

A madrugada surge, o telefonema foi apenas uma tentativa fracassada de expressar o que eu nunca senti:o amor.

Volto para o sofá, recolho minhas pernas, descanso meu queixo entre os meus joelhos erguidos. Preciso dormir para esquecer um pouco o meu eu, fechar os meus olhos agora é enxergar tudo aquilo que o meu mundo não é para mim.

O telefone toca...

Subitamente, levanto-me, atendo à ligação, o silêncio conversa comigo.

--- Alô!

--- ....

---Alô! Pode falar...

--- ...

Minha voz ecoa.Não sei exatamente, quem me ouve agora.Não importa A ligação termina, retorno para o sofá .

Deus, quem eu sou? Eu tentei e , como eu tentei dizer... Eu te amo.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 20/01/2007
Código do texto: T353663
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