Amigos? Parte 3

João Vítor pegou o avião na sexta-feira como estava programado e chegou a Frankfurt à noite, não precisou de intérprete, pois sabia falar bem o idioma. Seus planos eram ficar seis meses na Alemanha acompanhando a construção do negócio. No primeiro mês Tiago foi visitar seu amigo, tinha acabado de tirar férias e pôde fazer uma viagem, então decidiu ir ver João. Uma semana depois Tiago teve que voltar ao Brasil e João Vítor ficou solitário na Alemanha, mas concluiu que quem tem um amigo como aquele nunca estaria sozinho.

Passado o tempo que estava planejado, Tiago foi buscar João no aeroporto, logo que chegou notou que o amigo estava com uma aparência estranha. Até chegar à mansão João não falou uma palavra. Ao chegar ao seu quarto com Tiago ameaçou dizer alguma coisa, mas não fez.

- João. Por que você está assim? Aconteceu algo? Perguntou Tiago

- Perdi tudo – respondeu com uma cara desesperada.

- O quê?

- Perdi a grana. Estou falido, totalmente quebrado. O que mais você quer que eu fale?

- Como você perdeu?

- Aqueles homens... eu fui vítima de um golpe. O grupo não existia no papel, era uma empresa fantasma que aplicava golpes em milionários.

- O que fizeram com o dinheiro?

- Roubaram e mandaram para uma contra num paraíso fiscal a qual eu não tenho acesso.

- Mas não é possível. Você investiu tudo no negócio?

- A única coisa que eu não perdi foi essa casa. Agora vou ter que vender para ter algum dinheiro pra sobreviver, pois o que eu tinha já se foi.

- Você não vai abrir um processo contra eles? Os sujeitos violaram o contrato.

- Contrato que não valia nada. Eu caí como um patinho no golpe deles. Estou acabado.

- Pare com isso. Eu te conheço há anos e nunca vi você se dar por vencido assim, não acredito que você vai admitir que foi derrotado desse jeito. É melhor você se preparar para se reerguer, pois eu não vou deixar que você se rebaixe assim.

- O que eu vou fazer agora? Perguntou João Vítor quase chorando.

- Primeiro vamos por essa casa à venda para poder comprar um apartamento pra você morar.

- E as minhas dívidas milionárias?

- Que dívidas?

- Eu emprestei muito dinheiro do banco Vivaldi, pois eles exigiam cada vez mais.

- Mas por que você continuou colocando dinheiro na mão daqueles enganadores?

- Porque eu estava cego pensando apenas nos lucros e só fui me dar conta quando os caras fugiram da Alemanha com a grana.

- Você tem idéia de onde eles podem estar?

- Sei lá. Devem estar armando um plano mirabolante para passar a perna em algum cara com dinheiro.

- Bom. Nós vamos falar com o banco e vamos dar um jeito. Eu te empresto um pouco, mas temos que falar com o nosso amigo Mariano para ver se conseguimos uma negociação amigável com o Sr. Vivaldi.

- Vai ser duro negociar com o Sr. Marco Vivaldi.

- Nós vamos conseguir. Pense nisso, você pode não voltar a ter a mesma vida de antes, mas vai ter condições de viver dignamente.

João Vítor colocou a casa à venda e não demorou nem uma semana para aparecer um comprador. Com o dinheiro ele comprou um apartamento pequeno e aplicou o resto para ter um dinheiro para sobreviver. Um dia após a mudança para o novo apartamento, Tiago foi visitar o João e ficou assustado ao ver uma garrafa de uísque com menos da metade da bebida, logo encontrou João Vítor em sua cama completamente embriagado e resmungando para o amigo.

- O que significa isso? Você nunca bebeu desse jeito.

- Estou afogando as mágoas – disse João.

Tiago sentia o forte bafo do amigo.

- Você não pode estragar a sua vida só porque foi enganado por um bando de trambiqueiros.

- Eu não fui apenas enganado, eu perdi tudo que eu tinha, fiz a pior besteira da minha vida.

- O dinheiro não é tudo na vida, recomponha-se. O que seu avô diria se visse você nesse estado lamentável? E ainda por cima o que ele diria se tivesse presenciado o que você fez com a companhia?

- Meu avô está morto e já deve ter visto tudo que fiz lá de cima, aliás, eu não perdi a companhia, perdi o dinheiro da venda.

- E você acha que ele estaria orgulhoso por você com a venda da empresa? É claro que não. Vá tomar um banho e depois nós conversamos.

- Como eu vou tomar banho nesse estado que estou? Perguntou João soluçando de bêbado.

Tiago não viu alternativa, teria que dar banho no amigo.

- O que eu não faço pelo bem da nossa amizade – reclamou Tiago.

João Vítor dormiu durante o banho, o que dificultou o procedimento.

Farah
Enviado por Farah em 31/01/2007
Código do texto: T364695
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