CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXVI – Cuité (PB)
 
 

CONTO – Nobre, uma lição de vida – Parte XXVI – Cuité (PB)
 

...Com a renúncia do Nobre à presidência do Expressinho a direção do clube ficara com o José Badé, seu grande amigo, e o Gilberto Maia Lorenzo, colega de banco, de alta capacidade de direção, de resolver problemas e de fazer amizades onde quer que estejam. Casado com a filha de José Cândido, comerciante local, dona Telma, formavam um casal exemplar, que também já dera muitas voltas por este nordeste afora.

            Nobre estava sem carro; o banco pagava bem, mas ele tinha compromissos a cumprir, ainda dos móveis do casamento. O dinheiro era curto para os débitos que assumira. Quitéria, que era uma das moças mais lindas do lugar, vizinha que morava na esquina da rua, numa moderna casa, oferecera à venda seu fusquinha, porquanto pouco o utilizava, estando assim como que ocioso na garagem. O Milton, seu irmão, que era alto funcionário do Estado, tinha carro, não precisava. Então o Nobre num esforço gigantesco o comprara com pagamento à vista, até porque fiado ela não venderia. Não foi mau negócio... Bom para os dois. O veículo estava razoável. Tomara o dinheiro emprestado na Cooperativa de Limoeiro, em Pernambuco, dirigida pelo inigualável Professor Vilaça, que Deus o tenha sempre em um lindo lugar. O Vilaça era pai do magnífico Ministro do Tribunal de Contas da União, doutor Marcus, um imortal, hoje ocupando uma cadeira de destaque na Academia Brasileira de Letras.

            Na primeira oportunidade, Nobre pegou a família (esposa e três filhas) – e viajara ao Recife e Jaboatão para rever parentes e amigos. A distância era grande -- uns 300 km -- mas o fusca muito econômico. Chuvas de pleno inverno, o medo era da serra, íngreme e muito molhada, não havia asfalto, uma mistura de barro e piçarra, mas seguiu em frente, sem problemas. Aqui e ali uma paradinha para o necessário lanche, porquanto todos pretendiam almoçar na casa dos pais.

            A sua mulher estava grávida, doida para ter um filho homem, e para isso vinha tentando, sem sucesso. (Por sinal, bom que se registre, referida senhora atravessou algumas gestações somente com um vestido de malha, que não amassava, era n’água e no couro). Visita feita resolveram voltar no outro dia, domingo, pois na segunda feira tinha expediente gigante. Tudo transcorria de maneira satisfatória. Um dos irmãos do Nobre, Ivaldo (Nino), que deste mundo partiu prematuramente, resolvera conhecer a cidade de Cuité, e se incluiu na comitiva. Já pela noitinha na estrada de acesso à cidade, o carro começara a dar problemas, mas pegava... Eita baixinho forte o fusca, passava tranquilamente por verdadeiros riachos que se criavam com as chuvas. Mas já na subida da serra a coisa complicou... O Nino e a Jane desciam para empurrar... Ele pegava; mais à frente a cena se repetia e foi assim até que a barra de tração quebrara bem em frente à casa de um cliente do banco, cujo nome não se lembra, que prestara toda a assistência possível, inclusive indo levá-los no seu próprio carro. Mas a Jane sentira muitas dores, não se preocupando tanto, como se fossem normais.

            O tempo vai passando. De repente ela nota que as colegas que estavam grávidas tinham a barriguinha mais crescida enquanto a dela havia estacionado. Não se conformou. Foi ao Dr. Medeiros que constatou logo de saída que ela não estava grávida. Sofrera um “aborto retido”. O feto havia morrido, talvez fosse um garotinho, não dava ainda pra dizer se era menino ou menina. Frustração para todos. Jane ficara com medo de arriscar novamente. Mas como se no interior, naquele tempo, não havia boa imagem de televisão!!! Resultado engravidara novamente, vindo a nascer a Úrsula, a quarta garotinha do casal, linda, saudável, hoje uma senhora casada e com uma filhinha, Taís, linda neta.

            Voltando ao futebol. Nobre, antes de entregar a presidência do Expressinho aos companheiros, Badé e Maia, fizera um grande movimento no comércio local, isso com vistas a levar expressiva equipe do Estado para jogar uma partida amistosa contra o seu clube. Concluiu por convidar o Campinense, da primeira divisão da Paraíba, sediado em Campina Grande. Acertada a quantia e todas as condições de deslocamento da equipe rubro-negra da Rainha da Borborema, começara o trabalho na cidade para conseguir fundos e mercadorias para que pudesse fornecer as refeições dos atletas visitantes, almoço e janta. O mimeógrafo a álcool do banco trabalhara pra valer na confecção de ingressos, mas com material adquirido pelo Nobre. Era preciso iniciar a venda antecipada, não se podia confiar somente no apurado das bilheterias.

            A verdade é que no dia do jogo foi uma grande festa. O ônibus quando chegou à cidade deu uma volta buzinando, dizendo que “acabara de subir a serra o primeiro clube profissional em toda a história do futebol daquela cidade tão pacata e hospitaleira”. O povo vibrava, muita gente torcia pelo clube visitante, outros pelo Treze, grande rival do Campinense. Na verdade, antes da partida todo o dinheiro necessário ao pagamento das despesas já havia sido apurado, não se recorda quanto, talvez quinhentos mil. Tudo que entrasse seria lucro, um sucesso. Mas a prefeitura não ficou de fora. A Doutora Prefeita dona Neusa mandou que se colaborasse com o evento, era uma festa sem igual para a cidade. Seu marido, Dr. Orlando, adorava futebol, era um excepcional advogado, não perdia uma causa; Osvaldo seu irmão, que o nosso bom Deus levara pra morar Consigo, seguira o mesmo caminho, também era poeta e acompanhava a delegação de futebol de salão nas viagens à Santa Cruz (RN). Seria o árbitro das partidas, pelo menos carregava consigo o apito. Depois dos jogos a Brahma comia no centro e as poesias afloravam com facilidade.

            Para hospedar a delegação conseguira as dependências do colégio local, com a ajuda do Frei Marcelino, que depois fora eleito Deputado Estadual pela oposição. Grande sucesso. Havia de tudo, camas bem arrumadas, geladeira, televisão, rádio. As cozinheiras davam tudo de si para que a comida ficasse deliciosa, esposas de colegas deram sua colaboração pra valer, desde a arrumação até o preparo das comidas, um verdadeiro banquete. Enquanto isso o povão aguardava com ansiedade a hora da “peleja”.

Em construção/revisão.
Voltaremos brevemente.

A foto é dos fundos da antiga sede do Expressinho.

Ansilgus
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Enviado por ansilgus em 14/06/2012
Reeditado em 16/06/2012
Código do texto: T3723448
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