FESTA JUNINA DA MINHA INFÂNCIA
 
As festas juninas atualmente, apesar da fartura de comidas típicas, pratos variados, doces e bebidas, em minha opinião não tem a mesma essência de antigamente. Vou contar um pouco como era no meu tempo de criança, no final da década de sessenta e início da década de setenta.
     
Na fazenda que eu fui criado, a festa era no dia 28 de junho,  véspera  de São Pedro, pois no dia seguinte ninguém trabalhava, era considerado dia santo. Era muito divertido principalmente para as crianças, já os preparativos  para nós era motivo de muita alegria, na casa que seria realizada a festa preparava-se uma grande fogueira, nós ajudávamos a juntar lenha para isso, as mulheres faziam quentão ou anizete, (bebida feita com água, açúcar, extrato de aniz e pinga) e chocolate para as crianças. Tinha mandioca e batata doce para assar nas brasas da fogueira, pipoca, amendoim torrado, doce de abóbora, bolo de milho verde. 
       
Tudo começava com um terço em honra a Santo Antonio, São João e São Pedro, então durante o dia a dona da casa preparava um altar e a bandeira com a estampa dos três santos. Saía uma das crianças da casa junto com outras e iam de casa em casa convidando para o terço a noite ( mãe mandô convida pu terço hoje em casa).
   
A noite acendia a fogueira, rezava o terço, a bandeira dos santos era carregada em procissão até onde seria levantada, meu pai ia na frente levando a bandeira e puxando os cantos, chegando no local já havia um buraco feito e um mastro de madeira, levantava-o com a bandeira dos santos cantando. Os homens soltavam rojões, as crianças bombinhas, traques e fósforos de cores, quando já estava no prumo ainda cantando, cada um socava um pouquinho até passar por todos.
   
Feito isso estava terminada as orações, ai era a hora mais esperada pela criançada, comer e beber tudo que tinha preparado, o já mencionado antes, também tinha sempre um litro de pinga com uma xícara de louça que passava para os homens tomar um gole cada um. Em seguida começava as brincadeiras ao redor da fogueira, os homens e mulheres passavam de compadre e comadre, os jovens rapazes, moças e as crianças passavam de primo ou de padrinho com um adulto.
    
A brincadeira era assim duas pessoas combinavam de passar por exemplo de compadre, então ao redor da fogueira uma ia pela esquerda a outra pela direita, quando se encontrava uma dizia São João disse, a outra respondia São Pedro confirmo,de nós se compadre que Deus mando, daí seguia em torno da fogueira e repetia isso por três vezes, três encontros, no quarto um dizia boa noite compadre e o outro respondia boa noite .
     
Nesses dias sempre tinha na frente da casa uma parte coberta com uma lona, e após as brincadeiras na fogueira, já tinha num canto do salão uma mesa com uma cadeira em cima, nela sentava o sanfoneiro e ai começava a dança.
  
Dançava-se apenas para se divertir não havia malicia, homens casados, mulheres casadas, moças e rapazes solteiros dançavam entre si, eram todos amigos, alguns parentes ou compadres era realmente um baile familiar com muita alegria sincera, isso ia até alta madrugada, as crianças brincavam até o tempo que aguentasse, quando o sono chegava mesmo deitavam em alguns colchões já preparado para esperar os pais que estavam dançando, quando todos já estavam cansados terminava a festa. Despediam-se e cada um ia para sua casa feliz, já pensando no próximo ano (se Deus quisé).
     
A minha infância foi assim, infelizmente na juventude no final da década de setenta isso já foi acabando, depois da grande geada de 1975, o patrão foi abandonando o café, famílias foram embora, a maioria para as cidades, a tecnologia foi chegando na roça, os tratores, os herbicidas e nas casas as televisões puseram fim numa era rural simples, romântica, religiosa muito gostosa que quem conheceu tem saudade, quem não conheceu perdeu, porque não volta mais. QUE SAUDADE!.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 02/07/2012
Reeditado em 19/11/2020
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